quarta-feira, 21 de julho de 2010

Cada um com o seu feitio


Habituei-me desde pequenina a cuidar de mim sozinha. A bastar-me a mim própria e a não precisar de ninguém. Desde os 10 anos que eu tinha passe para todos os transportes, sabia os números dos autocarros de cor e cumpria as minhas obrigações sem precisar de ninguém para me ir buscar e me ir pôr. Há excepção do exame cujo-o-nome-não-deve-ser-pronunciado há duas semanas atrás, não me lembro da ultima vez que alguém me acompanhou ao médico ou cuidou de mim de alguma maneira...até com uma rotura de ligamentos no joelho, fui eu que fui a conduzir sozinha para o hospital e vim! E isto não é a B. a fazer queixinhas do mundo em geral...é assim, não me lembro sequer de ser de outra maneira...

Tem dias que eu deixo a minha mãe cuidar de mim, mais porque sei que ela gosta do que exactamente por precisar. Deito-me na cama dela quando estou triste e peço colo. Sei que se o colo não estivesse lá eu sobrevivia, mas sei que ela gosta de sentir que eu preciso de alguém...torna-me mais normal!
Percebi há cerca de um ano que nunca espero que alguém altere a sua vida por mim, esse pensamento está tão enraizado aqui dentro, que eu faço sempre o que quero, porque assumo a partida que os outros não querem saber e portanto, eu sigo em frente.
Há um ano atrás (quando eu descobri isto sobre mim) ia ter com a K. a Tróia. Como sempre iria sozinha, tranquila, apanhar o ferry e supostamente quando chegasse, alguém sairia da praia e me iria buscar. A K. começou a insistir nas horas e em saber a que horas eu chegava...eu comecei a passar-me. O que é que interessava??, não queria estar a correr, chegava quando chegasse!
Ela ligou-me, passada como só ela sabe ficar e disse-me:
"Estamos todos em casa à tua espera! O mínimo que podes fazer é dizeres a que horas é que chegas? Decidimos esperar por ti para ir para a praia, e para ti é tão estranho alguém mudar alguma coisa por ti que nem te apercebes do egoísta que isso te torna. Se eu estou a perguntar a que horas chegas e porque quero saber, porque me importa, porque estou a tua espera. Agora...a que horas é que chegas?"
E calou-me. Com essa, acabou comigo.

Eu sou independente porque sou independente. Cuido de mim e dos meus problemas muito facilmente, e normalmente sobra-me mais que tempo para cuidar dos outros e me preocupar com eles. E quando gosto preocupo-me muito...muito a ponto de ser chata e paranoica e de me obrigar a parar com isso e a ser racional - é que por uma fracção de segundo (e sem jamais dizer a ninguém) eu só queria que a pessoa ficasse presa ao pé da cama e pronto...resolvia-se o problema!
A verdade é que os nossos medos mais antigos são os piores, e eu tenho verdadeiro pânico de perder as pessoas. Não é perde-las delas se afastarem de mim, é perde-las mesmo naquela do para sempre...

E apesar de muitas vezes, tal como a K. o faz, se confundir a minha independência com egoísmo, a verdade é que eu não me considero minimamente egoísta. Eu não penso só em mim...apesar de ser verdade que, na maioria das vezes, eu só faço aquilo que quero.
Mas tem dias em que eu só queria não ter de ser independente, não ter de ser forte, não ter de me bastar a mim mesma. Encostar-me só e ficar em silencio, protegida... e esperar que alguém me venha ajudar a matar as baratas sem eu ter de pedir...não porque eu precise, mas porque sim.

Uiii...este saiu sincero hoje!



P.S: Afinal não havias filhos da realeza. Depois de 4h de limpeza profunda e de arrastar tudo, nem sombra de baratas na casa...

3 comentários:

  1. Sem dúvida o post mais sincero e genuíno que li.....traduz exactamente o que és! Só é pena que a maior parte das pessoas não entenda e só repare na capa da Ice Queen!:)

    ResponderEliminar
  2. Os que me custam mais a escrever são aqueles que são escritos sem a minha palermice habitual!! =)

    E normalmente não são publicados!! LOL

    ResponderEliminar
  3. perfeito.
    sou como tu, também tenho passe desde os 10 anos e nunca tive a mania de ter que ligar ao pai para levar ou buscar. chegava tarde a casa mas nunca liguei.
    e nunca chorei no colo da minha mãe, nunca senti-me à vontade para tal. prefiro sempre chorar sozinha, ter o meu momento.
    e isso não é ser egoísta :)
    e tu com essas tais atitudes também não és.

    beijo

    ResponderEliminar