quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Livros 2020

Porque nem só de romances históricos vive uma mãe, este foi o ultimo livro que eu li.

E atesto. Fiz tal como prescrito e foi mais ou menos sem espinhas, fralda foi tirada de dia e de noite de uma vez. Tenho oficialmente uma criança e não mais um bebe.

É assim um agri-doce. Até aos 3 anos não notei muito, mas a partir dos 3 é uma mudança por mês. Primeiro mudar o berço para uma cama grande, depois aprender a vestir-se, tirar o leitinho para adormecer e agora a fralda. E não ficamos por aqui, daqui a 9 meses ele vai para a escola primaria (que aqui começa aos 4 anos), e portanto há mais uma data de coisas para aprender até lá. 

Mas voltando ao livro, parece gigante um livro inteiro a explicar como tirar a fralda. Na minha cabeça era uma coisa mais ou menos simples, mas não, tem toda uma psicologia por trás. Não é só chegar e fazer, é preciso saber fazer para minorar ao máximo as interacções negativas a volta do assunto. 

Não esperem no entanto "acident free experience", é um livro não um santo milagreiro. Mas foi muito melhor do que o que estava à espera.

sábado, 26 de setembro de 2020

Thoughts

I can have it all! 

That's exactly the kind of thought that got you in to trouble the last time.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

On another note

E para não tornar isto uma estrada escura para quem me lê (por menos que vocês sejam não merecem levar só com esta dor), os planos para a casa nova estão a andar.

Está praticamente 100% certo que vamos avançar, e temos tirado os fins de semana para sonhar e ver coisas bonitas. Cozinhas, camas, decoração...e também orçamentos e contas, claro!! Um não vive sem o outro.

E é (quase) certo que na nossa futura casa teremos uma biblioteca. Assim parecida com esta que esta na imagem. E vou finalmente buscar os livros todos da minha avó, sacudir-lhes o pó e dar-lhe uma nova casa. E isso faz-me muito feliz.

Este ano quase acabou comigo, mas eu sou teimosa e torcida. Este ano não vai ser só o ano em que o meu pai morreu. Recuso-me. E portanto esta é a mensagem: consegue-se viver com a dor, é só preciso ir sobrevivendo até ela passar. Mas é possível. Há esperança!!

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A dor ocupa muito espaço

Uma cabeça emocionalmente cheia fica mais desorganizada.Nunca antes deste ano percebi com tanta força a importância de um prato cheio, nem quanto a parte emocional pode encher o prato. Posso literalmente nao ter nada para fazer e sentir-me a rebentar com tudo dentro da minha cabeça.

Acho que a dor ocupa muito espaço, sinceramente. 

Ontem o N. estava a ver vídeos antigos com o M. na sala e eu estava na cozinha a arrumar umas coisas quando ouvi a voz do meu pai. Foi um segundo depois do M. ter gritado "Avô" que o N. desviou o assunto na esperança que me tivesse passado despercebido. Foi um segundo que me atingiu como um raio de dor que me deixou K.O. na hora a seguir. A sequência de eventos no cérebro, desde a voz dele, passando pela saudade de não o ouvir há meses, e acabar na dor horrorosa de o saber para sempre desaparecido.

O M. hoje, quando lhe disse que vamos passar o fim de semana a Lisboa, perguntou imediatamente pelo avô. E depois disse, que já sabia que ele não estava lá e que estava no hospital. O hospital foi o ultimo sitio onde ele o viu por FaceTime. Mantive a conversa em tom casual e disse-lhe que achava que devíamos manter o avô no nosso coração, se podia ser assim (dado que a opção "no céu" ele não aceitou). E depois ele disse-me que o avô não lhe disse a verdade, que não disse que se ia embora. E eu tive de lhe explicar que o avô também não sabia, que foi tudo muito depressa. Foram 5 minutos de conversa à chegada a casa, e ele pelo meio diz coisas atabalhoadas de como quem tem 3 anos e vive parcialmente no seu próprio mundo. Tento manter-me de cara seca a falar com ele, em tom neutro, como senão me tivessem a dar marteladas no coração ao mesmo tempo. Acho que emocionalmente os últimos meses foram difíceis para mim e por mais que tenha tentado não passar isso ao M. ele sente. Ele sente-me triste e muitas vezes ausente e tenta puxar-me para ele, pedir atenção, puxar a corda. E eu tenho, em modo piloto automático e sem controlo, feito o meu melhor, mas quando olho para trás percebo que ficou aquém, não grave, mas não consegui ser nos últimos vezes como era antes.

Alias acho que já referi isto antes, não faço ideia ainda o quando a perda do meu pai me mudou, mas sei que não vou voltar a ser a mesma. Não quero, nem posso. Mas apesar de diferente, quero ser evoluir, melhorar, ser sempre alguém que encheria o meu pai de orgulho.

Vou dormir. A dor já tomou conta, por isso o melhor mesmo é descansar.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Livros 2020

D. Manuel I

A Isabel Stilwell é das minhas escritoras preferidas e por isso já se sabe o que vem daqui.

Toda a parte histórica do livro, consegue sustentar na perfeição a parte mais ficcional do romance, sem perder o norte. O facto de ser passado na altura dos descobrimentos torna tudo ainda mais grandioso.

O principio é sempre confuso, a andar para trás e para a frente com o nome dos réis, e o facto de todos serem Isabeis, Afonsos, Joanas e Manueis. Mas como em tudo, primeiro estranha-se e depois entranha-se. 

Acabo o livro sempre a desejar ter este nível de valor histórico em livros sobre toda a historia de todos os países do mundo.
 

Necessidades

Sinto uma necessidade quase insuportável de me sentir próxima do meu pai. Como se quisesse agarrar-me a tudo o que é dele e evitar o distanciamento inevitável que a morte trás. Obstinada e teimosamente recuso-me a deixa-lo ir, a deixar as coisas que ele gostava, os sítios, os desportos, as canções, qualquer pequeno grão de areia que o tenha tocado, passar-me ao lado.

Agarro-me a estas pequenas coisas em desespero. A inevitabilidade da morte será mais forte do que eu no final, mas ainda não estou pronta. Ainda não.

Então canto Beatles, vejo F1, cheiro Davidoff Cool Water, sigo futebol, como torradas com uma camada espessa de manteiga e dou golos brutais em coca-cola fresca. Parece que o sinto mais perto, quanto mais perto estou das coisas que ele gostava.

Não faz mal nem bem, deve ser uma fase. Não sei. Costumava achar que com a psicologia das fases do luto, saberia sempre onde estaria quando este dia chegasse, e isso faria com que não perdesse o norte. Ingenuidade. A minha bússola roda sem parar e o norte depende do dia.

 Ainda ontem em pranto agarrada ao N. gritava que foi demasiado rápido, injusto, insuportável. Ele estava aqui e agora já não está, não é justo, não pode ser, não quero, não aceito!! E depois respiro fundo, enxugo as lágrimas e aceito que a tristeza venha. Que me invada sem mais nada e sem eu acrescentar ainda mais lenha de desespero nesta fogueira, só uma simples aceitação. Cozinhar ao som doce de Caetano, concentrada nas almôndegas e com as lágrimas calmas a caírem-me cara abaixo. Não lutar contra a tristeza é essencial. Não lutar contra nada, na realidade. Deixar vir como as ondas do mar a passar-me por cima num dia quente de verão. 

A perda é o que é, e os dias vão-se passando como se pode. E não há dia que não sinta a falta dele. E tenho medo que esse dia chegue, o dia em que não me vou lembrar que ele não esta aqui. Inevitavelmente ele há-de chegar, o tempo cura tudo. A teoria sei eu bem, o pior é o resto.