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quinta-feira, 5 de julho de 2018

Dexter

Segundo dia hoje. O meu gato morreu há dois dias, ou melhor dizendo, eu tive de matar o meu gato há dois dias (se é que faz alguma diferença, já nem sei). Num momento estava aqui, deitado à janela e de repente já não estava mais. 
Um vazio cá dentro. Um vazio na casa, na janela da casa de banho, no silencio atrás da porta fechada, na caixa de transporte ainda no hall de entrada. Uma dor horrorosa que não tem por onde fugir sem ser pelos olhos.

Os animais são família, conforto nos dias tristes, risadas, ronronares a meio da noite, mimos no sofá. A nossa vida em conjunto foi feita de momentos especiais (levei-o para o meu casamento, afinal de contas!) e de quotidianos, atividades repetidas de aparente pouca importância, mas que na soma de todos os momentos, os que mais me vão trazer saudade.

Sabia que este dia ia chegar, os animais vivem sempre menos em teoria, mas achei que tinha muito tempo (um erro quase comum), muito mais tempo do que o que tive, isso é certo. Os gatos duram pelo menos 15 anos, este tratado a sopas e pão de ló, duraria certamente 18 ou mesmo 20...que erro tão crasso! Um gato como o meu não poderia durar tanto, não seria natural. Um gato que mais parecia um cão de tão bonzinho que era, que nunca mostrou as unhas, ou bufou, não era um gato comum. Era o meu e por azar era doente.
Ele tinha de morrer cedo. Um gato tão querido não podia durar muito.

Tive um ano para me preparar para a morte dele e não estava preparada. Não quis pensar sobre isso, recusei-me a ver o óbvio, que acontecia todos os dias diante dos meus olhos. Uma prostração anormal, um cessar de qualquer tipo de brincadeiras, a ausência constante no tapete da sala.
Só espero não o ter feito sofrer. Só espero que a minha teimosia em mante-lo vivo, á base de comprimidos e biscoitos dados na boca se tivesse de ser, não o tenham atormentado até ao fim.

E agora olho para os sítios onde ele costumava estar e ele não está. Olho para a arranhadela que ainda tenho no braço, a ultima feita na despedida sem querer, e penso que nunca mais o vou ver.  A garganta fechasse neste nó de tristeza que só sai quando sair, porque a tristeza é assim mesmo.

Hoje pedi para tirarem e limparem as coisas dele daqui de casa. Não o conseguia fazer eu. E então hoje pela primeira vez, cheguei a uma casa sem vestígios de gato, sem comida espalhada pelo chão, pedras soltas e pelos pelo ar. E confesso, não queria chegar a esta casa, queria chegar a minha casa e a a minha casa tem um gato. Ponto final.

O animais fazem parte da família e o meu foi a coisa mais querida do mundo. O melhor gato que poderíamos ter tido. Só queria que o tivéssemos tido mais tempo. Só isso.
Mas como não tivemos, agradeço todos os ronronares, todas as lambidelas às 6 da manha, todos os olhares (pouco) ferozes quando o escovava, todas as vezes que me deitei no chão a dar-lhe festas na barriga e que sai atrasada para ir trabalhar. Agradeço ter-me deitado no chão todas as vezes e ter brincado tudo o que podia. Agradeço não o ter enxotado da cama porque era cedo, não ter fechado a porta para fazer xixi em paz e não lhe limitar o espaço.
Agradeço tudo na verdade, porque depois da tristeza passar, o amor vai ficar. E esse ninguém mo pode tirar.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Anthony, Oh Anthony


Sobre o suicídio do Anthony Bourdain:
Não posso tolerar, nem aceitar, nem perceber, nem perdoar, nem relevar, nem encontrar culpados ou culpadas e nem tão pouco desculpas. Ele matou-se e literalmente tudo o que ele fez morreu.
E para mim ele não deixou nada. Ou melhor, deixou uma filha e uma mãe que tem de explicar a essa criança que ela é tão pouco importante, que o pai tirou a própria vida e não pensou sequer no que isso ia fazer a dela.
E irrita-me porque eu adorava o Anthony. Foi o livro dele o primeiro presente que o meu marido me deu, foi ele que nos fez correr cidades à procura daquele restaurante, foi graças a ele que comi o melhor mil-folhas da minha vida, foi ele que nos fez sonhar no sofá sobre os sítios que íamos (e vamos) ver e toda a questão do suicídio é uma completa estupidez.
E eu sei que a depressão é uma doença real, mas no final das contas feitas, para mim, é só mais um pai que pensou mais nele do que na filha, e isso não consigo aceitar.
Se o desculpar a ele tenho que desculpar a minha mãe também, e quase 14 anos depois (da tentativa falhada), ainda não me sinto preparada para a perdoar. Sinceramente, nem sei se algum dia me irei sentir.
E eu sei que perdoar ou simplesmente aceitar e tirar isto de dentro de mim, só me daria paz. A paz com que vivo diariamente e que durante dias que foi perturbada, simplesmente porque alguém que eu admirava se matou. Mas não consigo. E por isso, o Anthony teve de morrer de vez, não só em sentido literal (óbvio) mas em sentido figurado também.
Não quero saber os porquês, não quero ver os programas, não quero ler os livros, não quero fazer as receitas. Não quero celebra-lo na morte porque já não o acho digno de admiração.
Claro que vejo a minha própria injustiça nestas palavras e por isso, o facto dele ser de alguma maneira imortal, sossega-me. Posso um dia mudar de ideia e ele ainda vai lá estar em toda a sua genialidade, a mostrar-me o mundo e a atiçar em mim a vontade (continuamente latente) de por a mochila as costas e ir conhecer o mundo. Mas esse dia ainda não vai ser hoje...

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Das coisas que eu ouço

"If you can bite, you generally don't have to".
Jordan B. Peterson

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Português

Quero escrever, mas o que sai é uma amalgama de coisas desconexas e sem sentido.
Preciso de tempo para escrever, para remoer nas palavras, deitar-me e rebolar com elas, até consegui pô-las em sentido, a marcha ao meu toque.

Acho que já fui melhor do que sou hoje a escrever. Tenho medo que, do tanto que falo inglês, que o português se esvaia de mim sem dar por isso. Esse pensamento atormenta-me, a minha língua, a língua de Camões, do Eça, de Pessoa, a minha língua que tanta falta me faz, falha-me agora constantemente, não em pensamentos (nesses não) mas nas palavras escritas.
Leio e não gosto, apago, escrevo e deito fora. Olho para o relógio e das 1000 linhas que escrevi não aproveito metade, não quero. Ou sinto o que leio quando escrevo o que sinto, ou então não quero, repudio tudo, carrego guardar e penso que logo volto.

Olho para trás e passei meses sem escrever uma linha.

Já escrevi muito melhor do que hoje, pela prática, pelos livros (até esses agora leio em inglês), pelas noticias, pelas conversas. E quanto mais me tentam enfiar o holandês a força mais sinto o meu corpo a rejeitar qualquer outra língua que não seja o português. Não quero, foda-se, não preciso, deixem-me em paz. E se tentar explicar porque é que tem dias em que só o português faz sentido ninguém vai perceber, eu própria não percebo. A genialidade de Camões, as descrições do Eça, as loucuras de Pessoa, não vale a pena tentar explicar porque agora vivo num mundo em que as pessoas não leram o que eu li, não ouviram o que eu cresci a ouvir, não conhecem os sítios, não sabem as piadas.
A diferença é boa, mas cansa. Preciso de quem me entenda, de não ter de explicar em inglês de maneira simplificada, de não ter de dizer todas as palavras...

quinta-feira, 17 de março de 2016

Leituras diarias

Dias e dia a ler noticias enfadonhas, opiniões medíocres, blogs engraçados, artigos excepcionais.
E depois há dias em que lês coisas, que te fazem todo o sentido. Por dentro, ressoa.
Porque nunca verbalizaste, mas sabes, também tu já morreste por dentro, também tu já te partiste em bocados tão pequenos, mas tão pequenos que foram precisos anos para colar.
É por isso. Ressoa.

Ter pavor da morte não significa que se saiba valorizar a vida. Temê-la, por terror, por medo, porque “não quero pensar nisso”, não significa que se é mais chegado à essência, que se viva com tudo, que se flutue por dentro, por se estar tão em paz consigo mesmo, por se ser tão grato com a condição de gente. Nem pensar. 
Acho que não conheço ninguém (pessoalmente) que viva em plena harmonia com o seu corpo, mente e espírito, não conheço ninguém que dance plenamente, sem medo, sem interferências. Não conheço ninguém que tenha uma mente absolutamente limpa, um corpo completamente são, um espírito inteiramente livre. Mas conheço quem esteja próximo, pelo menos, dessa vontade - da vontade de fazer a dança perfeita. Conheço quem trabalhe, arduamente, pelo entendimento da alma, pela libertação da mente e do corpo que, presos, pensam e fazem aquilo que a alma abomina. Conheço quem lute, diariamente, para contrariar os caprichos do ego, para descobrir o que de facto o alimenta internamente. Conheço quem sonhe saber que sonhos tem. Conheço quem já tenha começado do zero quando poderia, futilmente, estar no topo, conheço quem não queira o topo indicado porque entende que o seu topo é estar em paz consigo mesmo. Conheço quem se queira (re)conhecer e (re)descobrir porque anseia, porque sente que há uma resposta que precisa de ser encontrada: o que estou aqui a fazer? 
Conheço quem respire por iluminação e amor, por entendimento e sabedoria, por sentido. Conheço quem use todos os seus sentidos para descobrir o seu próprio sentido. 
E neste cruzar por estes que conheço, identifico-lhes, a todos, um padrão comum. Todos perceberam que iriam morrer ou todos, a dada altura, se sentiram efetivamente mortos por dentro. Todos foram sombra, todos já foram depressão. Todos perderam o chão. Todos mataram a ilusão da eternidade ou da paz garantida. Todos tropeçaram em si mesmos, todos caíram no poço, todos fundaram o próprio poço e por terem lá estado, metidos, infiltrados, enfiados, todos quiseram, a dado momento, de lá sair. Mas agora com verdade. Porque se não for com verdade, sabem que jamais sairão da prisão ou que, se saírem, voltarão para lá. 
E há muito, a quem a vida facilitou o processo de serem realmente verdadeiros. Aqueles que foram confrontados de frente, assustados com as letras grandes, aqueles a quem foi dito “vais morrer” passaram, então, a saber viver. A amar quem sentiam que tinham de amar, a fazer o que sentiam que tinham de fazer, a ser o que sentiam que tinham de ser. Porque o espaço para a meia verdade, de repente, desapareceu, porque afinal não se quer ser obrigado a viver. Quer-se viver por opção. 
Depois de confrontados com aquilo que mais tememos, a morte da ilusão da eternidade, muitos passam a saber viver. Quando confrontados com um diagnóstico fatalista, já é tão mais fácil deixar o emprego que se odeia, a mulher que se odeia, o homem que se odeia, a vida que se odeia, porque a vida é esta, é minha e porque vou morrer. O tempo passa a ser relativizado e, ao mesmo tempo, aproveitado até ao milésimo de segundo, o tempo passa a ser eterno e, ao mesmo tempo, vazio de horas. Eu só aprendi assim. 
Será preciso ouvirmos todos esse diagnóstico, essa condenação? Quem me dera que não. Quem me dera que nos bastasse o dia-a-dia para vivermos de acordo com a nossa essência, mas sabemos que não é assim. Só nos mexemos, só vivemos quando nos dizem que esta vida está a acabar. Ou quando a vida se acaba, connosco ainda vivos, tal não foi a dor daquele trauma. Só funcionamos à porrada, com confrontação, com a perda repentina, com a chapada na cara. Só funcionamos quando nos tiram a base que, afinal, é movediça e nada tem de seguro. 
Parece que se não tocarmos na realidade da efemeridade da vida, nunca a reconheceremos. Parece que só seremos felizes, à força e com sofrimento, parece que andamos a pedinchar que nos digam, vestidos de bata branca e com um consultório a condizer: Tenho uma excelente notícia para ti: hoje é o teu último dia de vida. E sabes porque é uma excelente notícia? Porque vais finalmente procurar aquilo que te alimenta e largar tudo o que há tanto tempo queres largar, mas que só não o fizeste antes porque precisavas de uma desculpa. Agora, toma lá a tua desculpa: Hoje é o teu último dia de vida.
Admiro todos aqueles que reagem ao diagnóstico fatalista, mas também te admiro tanto a ti, que me estás a ler neste momento enquanto bebes o teu café, na tua cidade, com o teu silêncio e o sotaque próprio, que não precisas que te condenem oficialmente e que, mesmo assim, te procuras.
Por Marine Antunes - Jornal i

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Em Belém

Acordo às 7h, e sábado, porque?
Levar o meu irmão ao fim de semana de actividades dos escuteiros.
Cheguei a Belém as 8h e não tive nem tempo de olhar a volta. Despedidas, beijinhos, adoro-te, diverte-te.
Sento-me no carro com o coração apertadinho, nunca é tempo suficiente, nunca chega, agora só nos vemos da próxima vez!
Sacudo a tristeza, só estou na minha cidade 2 dias não vou perder tempo a pensar no quão bom seria termos uma casa aqui, vivermos aqui, termos o nosso trabalho de lá aqui...não vou!
Ligo a M80 no máximo "e pra amanhã mas podia ser para hoje...", repertório todo em português, perfeito! Lisboa é a cidade da minha vida. Cada vez mais tenho a certeza disso, cada viagem, cada tempo fora, cada passo para mais longe, só me dão mais certeza que um dia vou voltar. E Deus me ajude, mas há-de ser muito antes da idade da reforma.
Dou meia volta com o carro, vidros aberto, sorriso nos lábios e música no máximo. Estaciono e Lisboa ainda está meia adormecida, os turistas ainda são poucos, e os pasteis de Belém estão vazios. 
Sento-me e falo em português. Falar a minha língua na rua, não sei descrever a sensação maravilhosa que isso é. Acredito que só quem mora fora me entende. Dia após dia, em todo lado, uma língua que não é a nossa, não é natural, tem de se pensar, parar, explicar da maneira mais simples para não haver más interpretações. O inglês sai-me cada vez mais fluido e perfeito, mas nunca vai ser a minha língua. É o holandês? Um projecto em desenvolvimento, mas acredito que, por mais anos que lá viva, não vai ser nunca a mesma coisa.
"Obrigada"...paro de escrever durante um pastel de nata. "Preciso de outro, por favor". Senão fosse estranho saía pela rua a falar português com toda gente que passasse por mim. Depois de muitos anos a amaldiçoar a gramática, e as figuras de estilo, tenho vontade de ler Os Lusíadas, poemas do Fernando Pessoa e os últimos 2 livros do Eça que ainda não li...
"Traga-me por favor 2 dúzias para levar"...vou levar pastéis de Belém para partilhar com todos.
Estou quase a chegar ao fim desta epopeia, desta última hora mágica de partilha entre mim e a minha cidade. Tenho de ir fazer compras para a minha mãe, ver como ela está, ir para Cascais. Se me despachar posso voltar a ter mais 1h com outro dos meus sítios preferidos...o Guincho.
Afinal são só 2 dias que cá estou, mas quando estou, estou inteira, e apesar das saudades, feliz com as minhas escolhas. Quando voltar prometo passar muito mais tempo contigo Lisboa, a apreciar-te e acarinhar-te. Por agora, até logo. Nunca, mas nunca adeus.

Escrito Sábado dia 7/11

domingo, 25 de outubro de 2015

Terapia continua

Nos últimos dias, têm havido algumas ligações de acontecimentos que não me saem da cabeça.
Começou quando estava a rever fotografias antigas (cronologicamente, obrigada facebook) e quando estava lá para o ano de 2010, o meu ano trágico, pensei ia entrar na zona negra, e que tudo tinham sido espinhos logo depois do 16 de Janeiro.
Espanto meu, enganei-me. Desde férias em Itália, 3 semanas em Marrocos, casos amigáveis de umas semanas aqui, noites loucas acolá, risadas, fofocas, conversas de horas...fiquei confusa, afinal eu fui feliz em 2010.
O que tinha na minha cabeça como certo é que 2010 foi o ano em que descobri, da forma mais dolorosa possível*, que o então suposto amor dos amores, na realidade não queria nada comigo. Que tinha sido o ano em que chorei até adormecer todas as noites, e grande parte dos dias. Foi o ano em que me perdi 1000 vezes e me encontrei 1001. Achei que, colado ao conceito de paixão trágica e não correspondida, tudo o resto tinha sido mau, e não foi! Então, mas como? Se eu gostava assim tanto, se chorei tanto, como é que estive também alegre e contente com outras pessoas e como é que tive momento tão felizes? O meu cérebro respondeu. Se calhar não gostavas tanto daquela pessoa como pensavas...say what?? Naaaa...tu queres ver!?
Em 2011 quando comecei a terapia, a minha psicóloga disse-me uma coisa sobre isto que nunca mais me vou esquecer. Estava a falar-lhe desta coisa do chorar todos os dias até adormecer, e ela perguntou-me porque é que eu achava que isso era. Eu disse-lhe, óbvio...porque estava triste, ao que ela respondeu, "então quando o teu avô morreu também choraste um ano todos os dias". Pois, não, isso não aconteceu, e eu estava verdadeiramente triste, mas não chorei todos os dias. Ficava calada e em silencio, quieta, chorava muito em curtos períodos de tempo. Mas nada igual a 2010. Ela riu-se, "ninguém chora durante um ano porque outra pessoa não gosta de nós, mas talvez choremos durante um ano por nós mesmos".
Portanto, descobri em 2015 que 2010 não foi sobre o N., foi sobre mim. Claro que ele também estava lá, não vamos já tirar-lhe todas as culpas de cima, mas não era ele que estava a mudar, era eu.
Claro que depois de descobrir isso, não parei até arranjar respostas. Isto de nos conhecermos a nós próprios dá trabalho pra caraças, é coisa de uma vida. As respostas, essas filhas da mãe, não vem pelo caminho fácil, dão sempre uma volta dos diabos até chegarem, mas quando chegam, não deixam duvidas.
Encurtando a historia até à resposta, senão nunca mais saímos daqui, o que eu descobri é que realmente, até aquele momento nunca ninguém tinha gostado mesmo de mim.
Por mais que isto pareça estranho de escrever, a verdade é que os meus pais nunca gostaram muito de mim. Não da maneira dramática como estão a pensar, de pais que maltratam os filhos ou isso, nada disso eu sempre tive tudo e até mais, mas durante a minha infância/adolescência eles nunca me ligaram muito, nunca se preocuparam muito, sempre fui sozinha. Até aos 16 anos, para o meu pai era como se eu não existisse, os meus avós sempre preferiram a minha prima, e a minha mãe sempre me amou muito, desde que isso não significasse ter trabalho. Portanto, basicamente metade da minha vida as pessoas mais importantes gostavam de mim, mais ou menos, se não desse trabalho, se não chateasse muito. Claro, mais que óbvio que isto fez com que eu também não gostasse muito de mim. Outro fenómeno que eu percebi ao olhar para as minhas fotografias...eu nunca fui assim tão gorda e feia como pensava.
Portanto em 2010, estava eu com 25/26 anos, e apesar das minhas relações familiares se terem alterado, o passado não se apaga, e algumas das pessoas de quem eu gostava, continuavam a não gostar de mim o suficiente.  Reparem que não é que eles não gostassem, só não era o suficiente!
2010 foi, na realidade, só a gota de água em 26 anos de enchente, apesar de eu ter estado anos a culpa-lo a ele. 2010 foi o inicio da pessoa que sou hoje e a prova que eu tenho muita sorte na vida e só posso agradecer por isso.
Se 2010 não tivesse existido eu nunca tinha começado a fazer mais desporto, a passar mais tempo comigo própria, sóbria, e a ter mais tempo para pensar. Se 2010 não tivesse existido eu não tinha precisado de me inscrever no MBA, para fugir dele, porque não haveria nada do que fugir. Se eu não tivesse entrado no MBA não tinha conhecido a "coacher" que me disse que era obrigatório eu fazer terapia e me deu o numero da minha psicóloga, se não tivesse passado 2 anos a sentar-me naquela cadeira todas as semanas, não me saberia interpretar, nem conhecer. Achei que sairia de lá com com as respostas todas, mas isso não aconteceu, há muita coisa que ainda me faz chorar e que eu não sei porquê. Se não fosse o MBA eu não tinha conhecido parte dos meus amigos e senão fosse pelo trabalho que fiz durante 2 anos de terapia eu não estaria feliz agora, nem casada. Estaria provavelmente ainda a chorar pelas pessoas que nunca gostaram o suficiente ou que não quiseram gostar, a ter pena de mim mesma pela minha infância triste, a dar sempre mais do que recebia de volta e ainda sem ter as ferramentas necessárias para aproveitar o resto da minha vida.
Está aqui também a resposta de porque é que eu olho tanto para trás, porque é que constantemente me vem perguntas a cabeça, sobre o passado para as quais ainda não tenho resposta. Quanto mais eu me conheço mais equilibrada sou, e quanto mais equilibrada sou, mais feliz me torno.

 

*Resumidamente, a maneira mais dolorosa possível, é no meio de uma conversa normal, das que tínhamos diariamente, a outra pessoa começa a dizer que percebeu que está apaixonado e bla bla bla corações e arco-íris, vocês acham que é por vocês (claro, óbvio, por quem mais seria?!) e descobrem 30 minutos depois que não. Ele estava mesmo era a falar de uma bimba qualquer, que apareceu do nenhures e que o fez cair de amores. Trágico!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Por faz sentido

Ainda bem que não morri
de todas as vezes que quis morrer
- que não saltei da ponte,
nem enchi os pulsos de sangue,
nem me deitei à linha, lá longe.
Ainda bem que não atei a corda à viga do tecto,
nem comprei na farmácia, com receita fingida,
uma dose de sono eterno.
Ainda bem que tive medo:
das facas, das alturas,
mas sobretudo de não morrer completamente
e ficar para aí - ainda mais perdida do que antes
- a olhar sem ver.
Ainda bem que o tecto foi sempre demasiado alto
e eu ridiculamente pequena para a morte.
Se tivesse morrido de uma dessas vezes,
não ouviria agora a tua voz a chamar-me,
enquanto escrevo este poema,
que pode não parecer - mas é
- um poema de amor.

Maria do Rosário Pereira

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O Eduardo Sá explica

"porque quanto mais se educa para a conter mais se empurra para o impulso."

E com esta frase ele descreveu todos os meus problemas da infância.
Fui educada para conter, para ser uma senhora, para não dizer o que pensava mas sim o que era correcto e o que deveria ser, sob penalização de os outros pensarem de mim coisas que eram impensáveis ser verdade, como o facto de eu gritar sempre que me tentam pisar, ou de usar o velho método do olho por olho, dente por dente (tão eficaz).

Foi um pequeno momento de clarividência antes de entrar em fim de semana. E claro uma justificação para os meus, sempre tão maravilhosos, impulsos de adolescência injustificáveis.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Sweet and sour

Welcome to my life.
I have days.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Funny thing

O luto.
Passaram-se já quase 3 meses essa é a verdade, e no meio da confusão que está a minha vida, os momentos de dor vão-me apanhando desprevenida.
Como ontem.
Cheguei ao aeroporto tarde e a más horas, e fui buscar o carro a garagem.
O pensamento da casa vazia, no escuro, com os armários abertos, já sem metade das coisas deu-me um aperto no coração... e então decidi fingir. Consciente dos meus actos quis fingir só para ser mais fácil.
Fingir que estava tudo na mesma como eu conhecia, que só não subia para uma conversa rápida e um beijinho porque era tarde. Fingir que a minha avó não morreu e estava em casa, como sempre. Entre o fumo do cigarro, a novela ligada na TV e o livro pousado na mesinha. Tudo na mesma, sempre na mesma. E para a semana ia lá almoçar, como em qualquer outra semana, e íamos falar do casamento, dos preparativos, dos vestidos e de como ia querer tudo tão pouco tradicional e tão mais a ver comigo. E ela ia-me dizer o que eu podia ou não fazer, o que ficava mal, o que os outros iam dizer, o que é tradição...
E tudo estava normal.
Fingi durante pouco tempo, a minha cabeça percebeu rapidamente o truque que lhe estava a pregar e veio para cima de mim com tudo, lágrimas, soluços, nó na garganta, angustia, desespero e tristeza, tanta tristeza por não poder partilhar nada disto com ela.
Com ela que sempre me defendeu de tudo e de todos, que era má e retorcida e teimosa e mau feitio, mas que eu adorava na mesma, assim. Só porque sim. Ela era como era, como todos nós somos, e eu sabia e não me importava. E ouvia tudo sem ligar ao conteúdo porque afinal, ela sempre tinha sido assim.
E passei o dia todo bem e agora as palavras voltam a fazer-me chorar.
Funny thing o luto, mesmo muito funny thing.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O risco?

Dá sabor à vida.
A principio deixa-me o estômago às voltas, tira-me horas de sono, faz-me ver e rever todos os ângulos e pontos para ter a certeza que não posso ser apanhada desprevenida em nada que possa controlar.
I am a control freak.
Mas e depois de ter calculado o risco? Depois de me habituar que não vai ser nada como eu achava que ia ser?
Olha, fecha-se os olhos e segue-se em frente. Depois de medir tudo o que posso, faço por instinto, pelo que sinto e acho que é certo para mim. Fixo-me naquilo que quero e não me desvio um milimetro.
É só curtir a sensação que me dá, o frio na barriga de estar a viver todos os dias intensamente, a antecipação dos eventos, o saber que um dia é assim e no outro pode ser diferente, porque a vida sempre igual não dá para mim.
Sou doce e salgada, sou perolas clássicas e piercing no nariz, sou cabelo gigante juba de leão e cabelo curto liso, sou blaiser e calças de ganga rasgadas.
Demorei muito tempo até perceber que podia ser tudo, mas agora que sei? Ninguém mais me diz como sou ou tenho de ser, só eu é que sei.

terça-feira, 6 de maio de 2014

...vidas mais faceis do que a minha. Há, muitas, eu sei, conheço-as!
Mas só é duro até nos habituarmos.
Encolhe-se os ombros e pronto.
Estou mais dura do que era, muito mais dura.
Tenho-me ouvido dizer coisas que nunca achei possivel, tenho feito coisas que achei não conseguiria, mas o que se acha um dia na vida muda e acabamos por aguentar e fazer o que temos de fazer quando a situação de apresenta.
Dou por mim a dar conselhos ao meu pai, 30 anos mais velho do que eu, porque ele nunca tinha passado por isto. Sorte dele. Tem perto dos 60 anos de, pela primeira vez, tomar decisões relativamente à mãe e sente-se perdido.
Alterar as cadeias de decisão não é fácil. Sempre foi uma pessoa a mandar a outra a obedecer. Mas isso é até ao dia, até ao dia em que temos de tomar decisões como se os nossos pais fossem nossos filhos. E eles choram e dizem que não querem e nós olhamos para eles e fazemos o que tem de ser feito, para os proteger deles mesmos.
É como eu digo. Há vidas bem mais fáceis que a minha, mas também há vidas piores e no meio desta confusão geral, agradeço tudo. O bom que me dá apoio durante esta tempestade que teima em não acabar, e o mau que me faz crescer e ser cada vez mais resistente.
Queria muito que alguma coisa aliviasse e se resolvesse, sim ou sopas sem situações temporárias. Infelizmente não há soluções permanentes, não se resolve nada para a vida...

domingo, 30 de março de 2014

Das coisas que eu ouço

O amor é lindo, adoro vê-lo espelhado no mural dos outros.
Giro é quando eu sei, que ele sabe, que eu sei, que por mais lindo que o amor seja, ele tem dias.
Há dias em que é menos lindo, e especialmente noites. Eu sorriu-me porque sei que teclas são só teclas, ele continua a insistir porque sabe que não me deixarei convencer a um simples almoço sequer. Nem é por ele, estou-me nas tintas, explodia com aquilo tudo e deixava de ser bonito de uma vez, paciência. É mais porque há consequencias para mim e para aquilo que sou e por agora não vale a pena.
Eu continuarei a ser ruim, nem saberia ser de outra maneira, ele continuará a alimentar-se da minha ruindade.
Quando for para ser, se for, vai ser épico.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Isso

Eu sempre brinquei sozinha no parque.
Isso não quer dizer que não prefira muito mais brincar com as outras crianças.
Apenas quer dizer que eu consigo faze-lo na perfeição, se tiver de ser.

quinta-feira, 27 de março de 2014

De ontem

Para quem tem fé, em si e em Deus, os problemas fazem só parte do caminho.
Custa muito e doi na mesma, mas sem dramas nem choros. Aceita-se, espera-se, lida-se com os problemas à medida que eles vão aparecendo.
Ontem foi mais um daqueles dias tirados dos filmes, daqueles com boa pontuação e que me fazem chorar. Com choros e gritos e comportamentos que não mereço, mas quando as pessoas são doentes, os outros tem de ouvir e calar. E infelizmente ela sempre foi uma pessoa doente.
Minto-lhe e protejo o meu irmão, faço o que tem de ser feito, porque se eu não fizer ninguém mais faz.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Incrivel

Quanto mais pode o amor acabar? É que acabar com o amor, descobri recentemente, é um ato continuo, que vai para mais além do que achavámos ser o fim. Quando sentimos que já acabou, continua a acabar todos os dias mais um bocadinho. E é por isso que não sabemos o dia em que acaba, não há um botão de liga-desliga. E é por isso também que demora tanto tempo, porque requer disciplina, força de vontade e a sensação permanente que merecemos muito mais.
Impensável há uns anos vê-lo e não correr para ele, im-pen-sá-vel! E agora? Vejo-o, claro que sim, só se fosse cega é que não o via, mas se calhar em caminho cumprimento, se não calhar não cumprimento, nem quero saber, nem me interessa, nem penso nisso.
E juro que não sei em que dia é que deixou de me irritar ele não me vir falar, simplesmente deixou, não sinto nada, uma não existência de sentir exactamente no mesmo lugar onde um dia senti que ia morrer de paixão.
Ain't it funny?

Apenas isso

Beijar estranhos é das coisas mais divertidas que há.
Eu já disse isso aqui várias vezes, e agora o video viral (quase 22 milhões de views) prova isso.

Aquele momento antes do momento em que vais descobrir como é, o coração a bater, o facto de não significar ainda nada mas poder vir a significar tudo...
É bom, é muito bom. Ou era, pelo menos.
Guardo com muito carinho todos os estranho (uns que depois se tornaram conhecidos) que beijei.


segunda-feira, 3 de março de 2014

Produtividade

E como a organização é a chave...