quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Funny thing

O luto.
Passaram-se já quase 3 meses essa é a verdade, e no meio da confusão que está a minha vida, os momentos de dor vão-me apanhando desprevenida.
Como ontem.
Cheguei ao aeroporto tarde e a más horas, e fui buscar o carro a garagem.
O pensamento da casa vazia, no escuro, com os armários abertos, já sem metade das coisas deu-me um aperto no coração... e então decidi fingir. Consciente dos meus actos quis fingir só para ser mais fácil.
Fingir que estava tudo na mesma como eu conhecia, que só não subia para uma conversa rápida e um beijinho porque era tarde. Fingir que a minha avó não morreu e estava em casa, como sempre. Entre o fumo do cigarro, a novela ligada na TV e o livro pousado na mesinha. Tudo na mesma, sempre na mesma. E para a semana ia lá almoçar, como em qualquer outra semana, e íamos falar do casamento, dos preparativos, dos vestidos e de como ia querer tudo tão pouco tradicional e tão mais a ver comigo. E ela ia-me dizer o que eu podia ou não fazer, o que ficava mal, o que os outros iam dizer, o que é tradição...
E tudo estava normal.
Fingi durante pouco tempo, a minha cabeça percebeu rapidamente o truque que lhe estava a pregar e veio para cima de mim com tudo, lágrimas, soluços, nó na garganta, angustia, desespero e tristeza, tanta tristeza por não poder partilhar nada disto com ela.
Com ela que sempre me defendeu de tudo e de todos, que era má e retorcida e teimosa e mau feitio, mas que eu adorava na mesma, assim. Só porque sim. Ela era como era, como todos nós somos, e eu sabia e não me importava. E ouvia tudo sem ligar ao conteúdo porque afinal, ela sempre tinha sido assim.
E passei o dia todo bem e agora as palavras voltam a fazer-me chorar.
Funny thing o luto, mesmo muito funny thing.

1 comentário:

  1. É das coisas piores na vida, é chorar a perda de alguém tão querido para nós!!
    Mas faz parte da natureza da vida né? Forças! bjo

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