domingo, 26 de novembro de 2017

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Reality your bitch

Fácil julgar: “ele é um bocado estranho”, “diferente”, “sempre despenteado”...
Vários comentários ou às vezes só olhares, sorrisos de escárnio, abanares de cabeça.

Sim, concordo com o diferente e nunca pensei no assunto mais do que dois minutos até hoje.
Levantou o braço numa reunião, o relógio caiu e por baixo estava lá, marcada no pulso uma cicatriz longitudinal pelo pulso abaixo.

A realidade tem maneiras certeiras de nos atingir. Hoje pensei mais do que 2 minutos sobre o que significava ser diferente. As pessoas andam a nossa volta e nós não sabemos nada do que se passa ou passou lá dentro.

Numa qualquer altura da vida, esta pessoa decidiu que não queria mais viver e hoje está aqui, a viver esta vida tão semelhante a minha.

Não me devia espantar, também eu já fui uma pessoa que não sou mais. Mas espantou, pôs-me a pensar em quantos demónios andam por aí sem que nós demos por isso.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Do luto e a sua permanência em nós

Deve ser por estar longe, mas às vezes esqueço-me que a minha avó já morreu.
É como senão a visse porque estou aqui e não porque ela morreu. Durante o tempo de 2 ou 3 pensamentos não aconteceu, vou-lhe dizer o que estou a pensar em breve, vou estar com ela em breve...
Como agora, da minha infância veio a memória a Praça de Londres, passei para a igreja São João de Brito, e daí para ir à missa com a minha avó, até que...não, não vai acontecer.
Acontece cada vez menos mas ainda acontece e não sei quando vai deixar de acontecer, e me vou esquecer simplesmente de quando ela era viva. 
Podia fingir que isso nunca vai acontecer dado o amor que eu tinha por ela, mas sei que não é verdade. Demora mais ou menos tempo mas o próprio tempo absorve o amor, o que vivemos juntas e até a dor. No final, seja ele quando for, fica a aceitação de que a morte leva tudo, menos uma lembrança indolor que acarinhamos de tempos a tempos.

Curtas

Nothing says blast from the past as Carolina Herrera 212.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Como sempre

Saudades de escrever, de me sentar a jogar conversa fora comigo mesma e passar depois horas a ajeitar o texto, mudar as palavras de ordem, cortar sem dó nem piedade parágrafos que são meros apêndices. Saudades de ter tempo para escrever.

Voltei ao trabalho há mais de um mês. Nas primeiras 3 semanas fui novamente um joguete nas mãos do tempo (coisa que odeio). A correr de um lado para o outro, entre o open-space, a sala de amamentação e o sofá da minha sala, num jogo que coordenação que me tirava toda a energia para pensar no que quer fosse exceto o M. e o trabalho.

Luckly enough, fui promovida. Ato de extrema simpatia da parte da minha entidade empregadora. Parecendo que não, ser reconhecida pelo meu trabalho e dedicação é uma das razões pelas quais adoro estar aqui. 

O M. cresce todos os dias a um ritmo que quase não consigo acompanhar. Continuo a aprender a ser mãe dele e ao mesmo tempo concilia-la comigo. Descobri que todos os livros que li durante 9 meses são apenas guidelines, similares aos livros que lemos na faculdade. Na pratica, temos que nos adaptar constantemente. Há dias em que está tudo controlado e há dias em que apenas se sobrevive.

A quantidade de amor, essa sim chocou-me, não estava a espera. O amor esmaga-te de tal maneira que ás vezes parece que todos os outros sentimentos desaparecem. Eles estão cá, eu sei, mas neste momento ainda estão a levar com o brilho fortíssimo que o M. emana e que eu ainda não consigo absorver rápido o suficiente para deixar ver os outros sentimentos. Ter um filho pode, sem duvida, gerar sentimento suficiente para colmatar toda a ausência de outros sentimentos, disso tenho agora a certeza. Não é saudável, mas é possível.

As chaves são:
Equilíbrio, o balanço delicado entre ser mãe e ser mulher. Eu preciso de tempo, preciso de estar comigo, de ir ao ginásio, de ter as unhas arranjadas a depilação feita. Preciso de ler e de escrever, de ver a minha série e de conversar com adultos, de aprender Holandês e ter side projects. Ter tempo é o desafio do momento. Tirar tempo ao trabalho não é inteligente, tirar ao sono não é sustentável, tirar à família não é aconselhável e tirar-lo ao M. é simplesmente impossível.
Eventualmente hei-de conseguir ter a minha vida equilibrada novamente.

Adaptação. Quando achas que a rotina está estabelecida, as noites estão boas, e está tudo equilibrado, pumba! dentes!, ou pumba! cólicas!, ou pumba! growth spur!, ou pumba! eczemas!
Nada é estático, está tudo constantemente a mudar, a evoluir, todos os dias. Para uma control-freak como eu esta extrema flexibilidade pode levar à loucura.

Aceitação, a melhor palavra. O que me faz levar calmamente quando ele acorda novamente a meio da noite (por uma razão diferente da anterior, que eu já tinha resolvido), que me faz não stressar por ter de alterar os planos 5 minutos antes dos acontecimentos.
Quando aceitas que nem todos os dias vais conseguir fazer tudo o que querias, que há dias que tens de te deitar as 21h, que uma Vogue demora um mês inteiro a ler, que tens de ter ajuda, a vida corre melhor. Estar permanentemente a lutar contra coisas que são como são é pouco inteligente e certamente leva a depressões sérias.

Não tenho exatamente uma deadline para conseguir tirar isto de letra. Os desafios são enormes porque a vida, como ela era acabou, desapareceu e não vai voltar. E habituarmos-nos a isso custa, tanto a mim, como ser individual, como a nós casal.

E com isto foram 2h inteiras. Uma tirei ao trabalho e a outra ao sono. Começar a trabalhar as 7h da manha tem as suas vantagens, mas começa a doer quando se chega a 5a feira.