segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Por faz sentido

Ainda bem que não morri
de todas as vezes que quis morrer
- que não saltei da ponte,
nem enchi os pulsos de sangue,
nem me deitei à linha, lá longe.
Ainda bem que não atei a corda à viga do tecto,
nem comprei na farmácia, com receita fingida,
uma dose de sono eterno.
Ainda bem que tive medo:
das facas, das alturas,
mas sobretudo de não morrer completamente
e ficar para aí - ainda mais perdida do que antes
- a olhar sem ver.
Ainda bem que o tecto foi sempre demasiado alto
e eu ridiculamente pequena para a morte.
Se tivesse morrido de uma dessas vezes,
não ouviria agora a tua voz a chamar-me,
enquanto escrevo este poema,
que pode não parecer - mas é
- um poema de amor.

Maria do Rosário Pereira

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