quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Histórias

Saí da luz artificial e do ar condicionado para estar um ano fechado com outros trapos velhos. De mansinho pus-me a jeito para ser a opção única quando abriste a porta. Juras-te que só iria eu, porque o final da noite seria a dançar até de manhã. Mentis-te, simplesmente não havia outra justificação que uma senhora pudesse dar. Mas assim que me sentiste, sorriste baixinho e pensaste: quero ver como é que te safas desta hoje!
Não precisava sequer de estar tão junto a ti como estava, para sentir o teu pulsar. O doido do teu coração batia desenfreado, música após música, garfada após garfada.
A portada fechou-se e o elevador subiu, pacatamente, até ao décimo andar. Enquanto subiamos o teu pensamento alternava entre a incredulidade, a tua ingenuidade a vir ao de cima dada a óbvia situação, e o desejo, vontade pura e crua de jogar outra vez. Feijões e moedas de cêntimo, como sempre.
Quando te vi sentada no canto da cama, com os pés descalços na alcatifa bege, pensei que perderias a paciência. Afinal jogar sim, mas só se for como tu queres. E então levantaste-te, último recurso, e deixaste-me a mim entrar em campo e fazer aquilo para que fui feito. Por momentos duvidaste das minhas capacidade, uma ofensa que ignorei. Eu, que estive fechado todo aquele tempo, não ia perder esta oportunidade.
Quando cai finalmente no chão, olhei para ti e ri-me do fervor com que tudo acontecia diante dos meus olhos. Paixão! Os feijões e as moedas se cêntimo foram a vida deles, e fizeste um all in. A roleta rolou e tu apostaste tudo, sem parares para pensar durante uma fracção de segundo sequer! Criança ingênua apaixonada, devias saber que podias ficar sem cartas, pior ainda ficar sem as mãos, os dedos, os anéis, as unhas...tudo! Afinal when God wants to punish us, He gives us what we want.
Durante 15 minutos observei-te, a maneira como davas o teu corpo e coração, a devoção com que o olhavas e tocavas...estava tudo errado, mas só te o disse depois, no carro quando estávamos sozinhos. Sabia que não ia voltar a estar contigo, mais valia deixar-te estar.
Passaste para o espelho, e voltas-te a sair, nua, tinhas exposto todos os teus sentimento ali, tudo o que é teu, não havia mais nada para dar. Deste demais! Quando tiveste coragem encaraste o verde dos olhos dele e vis-te, primeiro sem quereres ver, o que te tentei dizer assim que saíste do carro, não valia a pena.
Colaste-te de novo a mim, sentaste-te ao lado do corpo nu e não quiseste desistir, não já, não agora...por favor. Foi inglória a tua luta, mas um prazer ver-te lutar.
Quando voltei para a escuridão mereci. Usaste-me sem imaginares que iríamos chegar até aqui. A culpa não foi minha, mas aceito a tua reacção. 
E quando há uma semana te perguntei de me querias na tua vida, preferiste não responder, adiar a decisão. Já passaram tantos anos desde que nos encontramos pela ultima (e única) vez, achas que podes fingir que não aconteceu? Fingir que eu sou apenas mais um vestido de cetim preto como outro qualquer? Usar-me agora, sem dor nem sofrimento? Eu não te vou fazer feliz, tu já és feliz, eu quero só partilhar mais momentos contigo. 

1 comentário:

  1. O meu não é preto é cinzento.Sabe Deus o que me custou vesti-lo depois de o ter estreado (naquele dia cinzento de Janeiro). Mas vesti-o. E depois disso já o apertei, que é para não ser parvo! :) Bolas que já me fizeste chorar, porra...

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