Quanto mais acreditarmos que somos felizes venha o que vier, menos nos preocupamos com o que há-de vir.
Moments that could be mine
sexta-feira, 22 de junho de 2018
Anthony, Oh Anthony
Sobre o suicídio do Anthony Bourdain:
Não posso tolerar, nem aceitar, nem perceber, nem perdoar, nem relevar, nem encontrar culpados ou culpadas e nem tão pouco desculpas. Ele matou-se e literalmente tudo o que ele fez morreu.
E para mim ele não deixou nada. Ou melhor, deixou uma filha e uma mãe que tem de explicar a essa criança que ela é tão pouco importante, que o pai tirou a própria vida e não pensou sequer no que isso ia fazer a dela.
E irrita-me porque eu adorava o Anthony. Foi o livro dele o primeiro presente que o meu marido me deu, foi ele que nos fez correr cidades à procura daquele restaurante, foi graças a ele que comi o melhor mil-folhas da minha vida, foi ele que nos fez sonhar no sofá sobre os sítios que íamos (e vamos) ver e toda a questão do suicídio é uma completa estupidez.
E eu sei que a depressão é uma doença real, mas no final das contas feitas, para mim, é só mais um pai que pensou mais nele do que na filha, e isso não consigo aceitar.
Se o desculpar a ele tenho que desculpar a minha mãe também, e quase 14 anos depois (da tentativa falhada), ainda não me sinto preparada para a perdoar. Sinceramente, nem sei se algum dia me irei sentir.
E eu sei que perdoar ou simplesmente aceitar e tirar isto de dentro de mim, só me daria paz. A paz com que vivo diariamente e que durante dias que foi perturbada, simplesmente porque alguém que eu admirava se matou. Mas não consigo. E por isso, o Anthony teve de morrer de vez, não só em sentido literal (óbvio) mas em sentido figurado também.
Não quero saber os porquês, não quero ver os programas, não quero ler os livros, não quero fazer as receitas. Não quero celebra-lo na morte porque já não o acho digno de admiração.
Claro que vejo a minha própria injustiça nestas palavras e por isso, o facto dele ser de alguma maneira imortal, sossega-me. Posso um dia mudar de ideia e ele ainda vai lá estar em toda a sua genialidade, a mostrar-me o mundo e a atiçar em mim a vontade (continuamente latente) de por a mochila as costas e ir conhecer o mundo. Mas esse dia ainda não vai ser hoje...
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