Esta sensação de não saber bem o que é, mas ser alguma coisa, não me larga. Um aborrecimento latente derivado a uma agenda estruturada, um dia após o outro. Tudo pensado, tudo organizado.
A ironia de ser exactamente esta organização que me permite ter tempo para estar aborrecida e ter ao mesmo tempo este doce amargo na boca.
Preciso de algum espaço controlado para o imprevisto. Preciso de criar alguma coisa, trabalhar na minha criatividade, deixar o meu outro lado solto no sitio onde ele deve ser solto, e não somente à solta.
Preciso de não me descuidar do meu lado direito, de lhe dar espaço e não tentar afoga-lo em agendas organizadas e dias estruturados, mas por estes dias, o meu trabalho é estruturar. É nisso que eu sou boa. Dar uma direcção aos outros, indicar-lhes o caminho e faze-los chegar onde eles nunca pensaram antes ser possivel.
E quanto mais eu organizo, mais o outro lado gritar. Mais as minhas asas se agitam contra a gaiola, mais o espartilho me aperta, e mais aborrecida eu fico.
A solução é escrever, pintar, inventar, criar e dar algum espaço para o imprevisto. A solução é começar a escolher o destino das férias, ansiar por sexta feira porque o fim de semana vai ser diferente, ter conversas imprevistas com amigos e não deixar o outro lado tão frustrado que o leve a fazer coisas parvas. Deus sabe como o meu outro lado gosta de saltar para o desconhecido, rir-se face ao perigo, ter comportamentos irracionais e agir estupidamente andando em círculos sem nexo só para sentir que não está no mesmo sitio.
Por isso vamos dar-lhe o que ele precisa antes que ele venha e tire. Maldito cérebro.
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