Sinto uma necessidade quase insuportável de me sentir próxima do meu pai. Como se quisesse agarrar-me a tudo o que é dele e evitar o distanciamento inevitável que a morte trás. Obstinada e teimosamente recuso-me a deixa-lo ir, a deixar as coisas que ele gostava, os sítios, os desportos, as canções, qualquer pequeno grão de areia que o tenha tocado, passar-me ao lado.
Agarro-me a estas pequenas coisas em desespero. A inevitabilidade da morte será mais forte do que eu no final, mas ainda não estou pronta. Ainda não.
Então canto Beatles, vejo F1, cheiro Davidoff Cool Water, sigo futebol, como torradas com uma camada espessa de manteiga e dou golos brutais em coca-cola fresca. Parece que o sinto mais perto, quanto mais perto estou das coisas que ele gostava.
Não faz mal nem bem, deve ser uma fase. Não sei. Costumava achar que com a psicologia das fases do luto, saberia sempre onde estaria quando este dia chegasse, e isso faria com que não perdesse o norte. Ingenuidade. A minha bússola roda sem parar e o norte depende do dia.
Ainda ontem em pranto agarrada ao N. gritava que foi demasiado rápido, injusto, insuportável. Ele estava aqui e agora já não está, não é justo, não pode ser, não quero, não aceito!! E depois respiro fundo, enxugo as lágrimas e aceito que a tristeza venha. Que me invada sem mais nada e sem eu acrescentar ainda mais lenha de desespero nesta fogueira, só uma simples aceitação. Cozinhar ao som doce de Caetano, concentrada nas almôndegas e com as lágrimas calmas a caírem-me cara abaixo. Não lutar contra a tristeza é essencial. Não lutar contra nada, na realidade. Deixar vir como as ondas do mar a passar-me por cima num dia quente de verão.
A perda é o que é, e os dias vão-se passando como se pode. E não há dia que não sinta a falta dele. E tenho medo que esse dia chegue, o dia em que não me vou lembrar que ele não esta aqui. Inevitavelmente ele há-de chegar, o tempo cura tudo. A teoria sei eu bem, o pior é o resto.
Sem comentários:
Enviar um comentário