quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A 29 de Setembro de todos os anos

Hoje chorei porque percebi que há coisas que já não me lembro: o toque suave dos dedos, o picar do bigode na minha bochecha, os cabelos finos, os traços da cara. Já não me lembro tão bem como antes. Até o cheiro já desapareceu da casa inteira e mesmo dos armários, onde eu tantas vezes pus o nariz para sentir mais um bocadinho, já não resta nada.

Quando disseram o teu nome na missa - como dizem sempre e eu detesto - deu-me o aperto do "nunca mais". Não há maneira de eu recuperar o que já me esqueci, essa é a verdade, e se antes eu me lembrava de cada detalhe nitidamente, agora já não consigo.
Agora só consigo lembrar-me do que eu sentida com o sorriso complacente e o olhar bondoso. Das poucas palavras de carinho acompanhadas de enormes gestos, das historias contadas com tom juvenil, dos passeios, dos ralhetes, da aprendizagem constante sobre qualquer tema que fosse.
Hoje passei o dia a passar em revisão os nossos Verões na quinta, as semanas em Monfortinho, os sítios específicos onde o encontrava a dormitar (é que o meu avô dormitava sempre), e tenho medo de me esquecer. Não quero que isso aconteça, mas o tempo tem destas coisas, faz os fragmentos de memória perderem-se no espaço.

Não é por ser só hoje. Mas no dia 29 doí sempre mais. Doí por mim e pelos outros, aqueles que sabem tão bem quanto eu que, se ele ainda estivesse aqui, as coisas eram todas diferentes.

1 comentário:

  1. Percebi exactamente a mensagem que transmitiste. E percebi porque me revi, senti e chorei com ela. Nem Deus sabe a falta que eles nos fazem. Nas coisas mais básicas como seja um telefone a comentar o arrefecimento do tempo. Ainda não tenho coragem para escrever sobre ela.

    Pode ser que um dia tenha.

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