terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O primeiro


Hoje de manhã e dado que madruguei (ando a dormir 5h por noite, muito bonito), vinha no carro mais uma vez a ver o nascer do sol e a pensar em coisas que jamais voltarei a fazer. Este pensamento levou-me, como é óbvio, a pensar nas coisas que já fiz e porque as fiz.

O primeiro amor não é necessariamente o primeiro namorado (ou pelo menos no meu caso não foi), alias o primeiro amor não tem sequer de ter sido namorado. O primeiro é aquele por quem fizemos tudo, aquele a quem dissemos tudo, aquele que não soubemos gerir o que sentíamos, que nos desesperamos quando acabou, aquele em que achamos que já não aguentávamos mais, em que bateu uma solidão que não passava durante meses a fio!

Eu podia pensar que só a mim é que isso me tinha acontecido, mas eu sei que isso não é verdade. Não posso afirmar com certeza que toda gente já tenha sofrido a perda do primeiro amor. Muitas relações acabaram quando tinham de acabar, sem dor para ambas as partes e muitas nem sequer acabaram e as pessoas estão juntas até hoje. No entanto, mostra-me a experiência, que a primeira separação é a mais difícil...afinal, depois dessa já sabemos que aguentamos qualquer outra! Eu pelo menos escudo-me sempre com a mesma frase quando as amigas B. me dizem que me vou magoar: "depois de ter passado um XXX (nome da pessoa em questão) na minha vida, não vai haver nenhum mais difícil".

A verdade é que eu tenho um medo de morte de estar enganada, e de um dia voltar a haver uma pessoa pela qual eu faça as mesmas atrocidades que fiz pelo primeiro. Não é que eu me arrependa do que fiz, não é isso, simplesmente agora estou mais crescida e sei melhor as coisas. Sei que não adianta pedir e implorar para a pessoa ficar na nossa vida, sei que "mas tu és o meu príncipe encantado" não se diz, especialmente quando a pessoa se quer ir embora, sei que chorar e fazer cenas é uma humilhação desnecessária, bem como qualquer tipo de espera ou esperança! Depois de se fazer isto tudo e muito mais que não vou por aqui (ele lembra-se e eu também), sabemos ou pelo menos queremos de todo o coração, que isso nunca mais volte a acontecer.
E desejamos isso com tanta força que quando alguém nos diz (anos e anos depois) "mas vai lá ver, luta mulher, faz qualquer coisa!", nós até pensamos que sim, a pessoa até tem razão, mas o medo não deixa. O medo paralisa e aterroriza, a lembrança da rejeição e da humilhação volta, vinda sabe-se lá de onde e mina tudo a nossa volta.

E ai surgem os pensamentos que atenuam a nossa falta de coragem, aqueles que usamos durante os últimos anos para não nos envolvermos a serio com ninguém, frases como "eu não vou lutar por uma pessoa que não me quer", "se calhar ele nem vale a pena", "não é suposto ser assim tão difícil", "isto não é para ser" ou ainda "se ele não está aqui é porque não quer e contra isso eu não posso fazer nada", voltam a ser pronunciadas e voltamos a querer recuar para a zona de conforto. Aquele sitio seguro onde controlamos tudo aquilo que sentimos, onde tudo é fácil e as relações de low maintenance aparecem. Relações onde eu não tenho ciumes, onde as coisas são calmas e eu sou compreensiva, tolerante e paciente...relações em que basicamente eu não me importo e sou uma pessoa fantástica porque não faço cenas!
Isn't it ironic...don't you think?

Não é exactamente que eu queira isso, alias, até acho que não quero voltar à zona de conforto, assim só para variar...mas as frases voltaram aqui para dentro da minha cabeça, e eu não as consigo travar, nem a elas nem ao medo! E o pior é que vou tentar tantas vezes, que um dia vou acabar por conseguir... "honey, all I know to do is go"!

P.S: Esta entre aspas porque é a letra de uma música, Leaving das Indigo Girls.

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