sexta-feira, 10 de junho de 2011

As loucuras deste cérebro...

[Agarrei-me ao corrimão branco e passei os olhos pela festa, só pessoas conhecidas!
O grupo grande com gente que não fazia lembrar a ninguém: bailarinas, ginastas, cantoras de gospel, a turma de judo, os mestres, alguns actores de filmes de Hollywood.
Tudo fazia imenso sentido, era um pavilhão grande branco, com sushi e canapés, mesas misturadas com tatamis e tapetes de ginástica, e nós estávamos todos aqui a conviver.

- Viste a Mariana? - Perguntou-me o Tiago interrompendo a minha procura.
- Não, nem por isso.

Ele seguiu. Não sei como, mas eu sabia que eles tinham voltada à pouco tempo depois de terem acabado namoro. Quando me virei, vi uma porta fechada, branca com uma maçaneta preta. Cheguei-me a porta e ouvi. Pelo que ouvi sabia bem o que lá ia encontrar dentro ainda antes de abrir a porta. Não tremi, não tive vontade de vomitar, o meu coração não disparou nem tive vontade de chorar. Pus o meu sorriso cabra numero 3 vou-apanhar-vos-em-flagrante e abri a porta. A cena era a que eu pensava, ele parou virou-se para mim e riu-se, a Mariana ficou em choque, eu ri-me pedi desculpa, virei costas e fechei a porta atrás de mim.
Ela não saiu de lá logo, o que me irritou solenemente. Apanhada em flagrante, devia vir implorar que eu não contasse ao namorado dela o que tinha acabado de ver.

Engraçado como nem me lembrei que o namorado dela e o outro são amigos, colegas de treino. Como eu própria sou (ou era) amiga de ambos. Nem me lembrei disso quando o meu cérebro ferozmente pensava na forma mais maquiavélica de contar a toda a gente que os tinha apanhado em pleno acto, dentro da dispensa, no meio da festa.

Sentei-me no muro, também ele branco e olhei para o horizonte. Só se via selva à volta, terra batida, casebres, mas de alguma maneira estávamos perto de casa. Ela aproxima-se, senta-se à minha frente e tapa-me a vista. Vinha consternada, arrependida, e eu lembrei-me do que ele em tempos me tinha dito sobre eles os dois: "eu e ela é pura química. Não há como explicar, e é difícil de evitar"...e finalmente o meu estômago deu sinais de vida, tal como quando ouvi isto, e eu fiquei desconfortável. Tirei o sorriso maldoso da cara e decidi ser eu, sincera e honesta. Nunca gostei dela, muito pelo contrario, mas é uma pessoa na mesma.

- Nunca gostei de ti. Nunca. Antes de te conhecer, desde que soube da tua existência, desde aquela fotografia, depois de te conhecer, quando tu o deixas-te, da maneira como ele ficou. Odeio-te não vou negar. Mas sabes o que me chateia ainda mais? saber que se eu tivesse sido namorada dele vocês tinham feito na mesma...

Ela respirou de alivio quando eu me levantei. Eu sei que ela achou que eu não ia contar nada ao Tiago, mas eu não podia fazer isso. Não ia ficar com isto para mim sozinha, com a imagem deles os dois contra a parede, e ele a agarra-la a puxa-la, e toda a cena gravada no meu cérebro. Não ia. Nem pensar, não queria ser boa pessoa.

- Tens até amanha para contares ao Tiago, senão eu conto.

Ela abriu a boca e pareceu-me que ia começar a chorar. Eu voltei a rir-me. O meu estômago tinha sossegado novamente. Voltei costas e entrei na festa novamente.
- A Mariana esta lá fora. Disse eu ao Tiago quando ele passou por mim ainda à procura dela.
- Não intendo. Foi ela que pediu para voltarmos, ela queria vir comigo. Não percebo porque é que ela desaparece assim?

Não falei mais com ele porque toda gente se começou a mexer. Fizeram uma fila e estava na hora de pagar e ir embora. Fui até à fila e ele estava lá a rir-se para mim. E eu não estava chateada, mal disposta, nada. Era como senão sentisse nada.
- Isto não se despacha. Estou atrasado. Combinei com eles ir jogar lá para casa e ainda estou aqui e atrasado. Detesto.
- Se eu e tu, se nós tivéssemos sido namorados, tu tinhas feito o mesmo...

Toda gente desapareceu de repente. Eu estava na rua, a festa tinha acabado e estava a ficar de noite. Iam para algum lado, e eu não os segui. Comecei a andar até que certa altura já não sabia voltar, nem para onde ir. Estava perdida no meio dos casebres, com a terra a entrar-me pelos pés, a penumbra a cair e eu não fazia ideia onde ia dormir.
Entrei numa casa onde estavam a cantar gospel, elas grandes, enormes vestiam túnicas verdes e eles túnicas roxas. Não queria interromper, mas o meu telemóvel apitou no meio daquilo tudo: Eles já se tinham ido embora quando eu cheguei. Vamos jantar? Mac?
Comecei a abanar a cabeça, não, não, não...eu não te falo. Porque é que achas que só porque eu te apanhei coma tua ex eu te falo? Não falo, não falo, não falo, não quero, não quero, não posso, desaparece. Corri para a rua, estava noite cerrada agora, viam-se as luzinhas da praça da igreja e meia dúzia de pessoas. Eu não sabia onde estava, nem para onde devia ir ir. Respondi na mesma à mensagem a dizer que estava perdida e não obtive mais resposta. Típico. Agora que eu preciso dele não me responde. Típico.]


Acordei finalmente.
Assim que acordo veio-me a imagem à cabeça outra vez.
Vontade de vomitar, horrível.
Eu sou louca porque tenho um cérebro que gosta de me por louca. Que não me dá sossego nem descanso, que não desiste comigo e que tem vontade própria.
E depois pego no telemóvel, tento-me distrair deste sonho maluco que não fez sentido nenhum e em vez disso leio "Vocês são o Tom&Jerry. Isso é never ending story".

Eu vim para casa do meu pai para estar sossegada. Porque aqui nada me chateia ou incomoda. Porque aqui é tudo calmo, e há sempre coisas para fazer...
Odeio o meu cérebro, odeio os meus sonhos parvos.

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