sábado, 2 de outubro de 2010

Criatividade


Entro pelo teu quarto a dentro sem te avisar. Não de maneira silenciosa como sempre faço, tipo gata em pezinhos de lã para te apanhar desprevenido e te beijar num lado qualquer, não. Entro alucinada, de forma intempestiva, desnorteada...literalmente passada da cabeça.

"Estou farta disto" digo-te eu. Encolhes os ombros a jeito de "o que e que queres que eu faça agora?". Passo-me ainda mais. Apetece-me abanar-te e gritar-te sem parar até te decidires, bater-te até perceberes, até admitires qualquer coisa que eu não sei o quê!

Admite porra. De uma vez por todas, resolve o que queres. Não é assim tão difícil, já não temos 15 anos.

Da minha instabilidade, que eu nunca sei se tu entendes ou não completamente o motivo, percebes apenas que tens de fazer alguma coisa que me acalme, senão isto hoje vai descambar. Falas do ar, da cor azul do céu, da música que sai do teu computador e de 450 mil coisas sem importância que te passem pela cabeça na altura. Eu tento não te seguir mas quando dou por mim já me perdi no porque de estar aqui. E tu ganhas 1-0.
Calas-te subitamente (percebes que já estás a conseguir), viras a cabeça de lado e olhas para mim com cara de puto. 2-0. Agarras-me a mão e puxas-me para ti para me fazeres calar de vez, quando eu falo já freneticamente sem nexo, sem concentração, sem saber o que digo. 3-0 game over.

Continuo irritada, passada, desnorteada. Continuo e vou continuar porque não consigo sair nem parar. Mas baixo os braços, perco a força e rendo-me, rendo-me a ti e a tudo neste momento. Olhas para mim desta maneira e eu faço aquilo que tu quiseres, a sério, tudo, porque assim já não consigo lutar, afastar-te ou pedir-te para desapareceres, não consigo! As ordens que dou ao meu cérebro perdem-se a meio caminho antes de chegar aos membros, ali pelo centro do corpo trocam-lhes as voltas sem eu controlar como.

Eu sei o que tinha para te dizer, sei que me devia ir embora e nunca mais olhar para ti nem desta maneira, nem de maneira nenhuma, que não te devia deixar fazer isto mais uma vez, pela milionésima vez, mas...talvez outro dia.

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