Sou exigente.
Talvez não devesse ser, talvez devesse ficar contente com o que me dão, bater palminhas de alegria a cada pequena coisinha, mas no fundo eu sou exigente.
Não com toda gente, muito pelo contrario até com poucas, pouquíssimas pessoas. Sou exigente com as pessoas para as quais dou tudo, para aquelas que piscam e eu estou lá com chocolates e ombro amigo, para as que fico horas sem dizer nada apenas à espera do momento em que elas querem falar, para as que conheço o modo de ser e o modo de estar, para as que jamais deixarei faltar alguma coisa porque seria como me faltar a mim. Para essas pessoas eu sou exigente. E exijo o mínimo: que saibam que eu não peço ajuda (não é do meu feitio), e que estejam aqui quando eu faço o telefonema, aquele estranho para não dizer nada; que respeitem a minha forma de ser mas fiquem cá, mesmo se eu disser que é indiferente (normalmente quando eu digo "é indiferente", nunca é); que conheçam também os meus silêncios. No fundo que saibam como eu sou, e que eu não tenha de pedir um simples telefone ou uma misera mensagem.
Eu não gosto de exigir, não gosto de dizer aos meus amigos que eles estiveram mal, que deviam ter estado e não estiveram, que deviam ter perguntado e ignoraram, que olharam para o umbigo deles em vez de olharem um bocadinho para mim. Não gosto porque parece que estou a cobrar e a amizade não se cobra. Por outro lado não consigo não dizer nada, não sou essa pessoa. Se me pisam os calos eu grito. E neste momento estou aos berros e ninguém ouve, ninguém quer saber.
E depois isto passa, claro que passa. Eu sou a porreira, aquela que cá está sempre. A que nunca se chateia, que está sempre na boa. Está sempre tudo bem, impecável, óptimo...até ao dia em que não está. E nesta leva, desta vez, safaram-se poucos, muito poucos, quase nenhuns. E eu nem sei para que é que eu queria os meus amigos, eles não podem fazer nada, ninguém pode. Mas de alguma maneira sinto-me sozinha, quando toda gente me disse que eu não ia estar. Detesto que me digam coisas que não podem cumprir. Prefiro que não digam nada.
Ou então sou só eu que não estou a aguentar. A pressão e a preocupação é tanta que sinto a minha cabeça a latejar constantemente. Parece que falta alguma coisa que eu não sei o que é, ao mesmo tempo que quero fazer qualquer coisa, mas não sei o quê...não sei. Odeio não saber, detesto coisas imprevisíveis. A minha vida tem um buraco gigante, eu vejo-o já alia à frente, não tenho como fugir e caminho para ele... não sei se o vou atravessar ou se vou cair. Ninguém sabe, ninguém entende, ninguém percebe. O pior é ninguém fazer grande esforço para isso também, nem que fosse para me acompanhar no caminho. Pior ainda, é saber que por certas pessoas, se fosse ao contrario, eu as ia levar ao colo até lá. E isso custa e chateia.
Mas paciência, isto passa e eu depois esqueço-me. Eventualmente volto a ser a B. porreira que está cá para o que der e vier. Para cuidar e dar mimos e ser mãe de todos. Porque sim, porque gosto e porque não me faz sentido de outra maneira.
Não tenho muitas pessoas, tenho poucas, mas gosto de cuidar das que tenho. Só queria que às vezes elas também cuidassem de mim. Principalmente porque eu estou a precisar.
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