Sobre os segredos

Há acontecimentos, conversas, actos, que eu gosto de guardar só para mim.
São aqueles bocadinho mágicos que ficam a pairar 5m acima do chão, iluminados com uma luz dourada praticamente perfeita, independentes de todos os comentários, palpites, ou julgamentos que os outros possam fazer. Os segredos são os bocadinhos da minha vida que são tão especiais que são exclusivamente meus e das pessoas que os passaram comigo. Conta-los era fazê-los descer a esta esfera real e humana, torna-los normais, quase corriqueiros, pouco importantes ou banais.
E por isso mantenho certas coisas em segredo. Não com o intuito de esconder propositadamente, não por ter vergonha ou por me arrepender, não por medo de ser apanhada...simplesmente porque foram momentos eternos e irrepetíveis que, desta maneira, não perdem a magia. E se os momentos não perdem a magia, podemos revê-los, vezes e vezes sem conta, todas as que quisermos porque eles nunca se vão gastar ou apagar.
Nem sempre fui assim, foram os outros que me fizeram ser assim! Que me estragaram com comentários banais, vulgares, quase grosseiros e julgamentos parvos, de quem não sabe o que diz, algumas memórias que eu queria guardar perfeitas, e que já não consigo. Não, pelo menos, sem me lembrar que A ou B pensaram isto e aquilo dos meus momentos. Não é a mesma coisa, não é de todo a mesma coisa.
Então já há uns anos que faço isto, guardo para mim o que quero manter exactamente como foi, sem alterar uma virgula, uma palavra, um "ai" ou um toque, nada. Sinto que assim, é como se tivesse uns fios invisíveis que me ligassem às pessoas que partilham comigo os momentos. Quando levo ao limite, peço-lhes para elas não contarem também, não há mal, é só nosso. É um bocadinho de vida, que é só nosso!