segunda-feira, 20 de março de 2023

No squares


Pedalei com vento e chuva na cara a mascarar-me as lagrimas.

Não sei mesmo quando é que entrei no quadrado. Quando é que adquiri o medo e entrei para dentro do comboio...aquele que eu jurei não iria entrar há tantos anos atrás.

Algures ao longo do tempo o quadrado pareceu-me mais seguro, mais longe da minha mãe que tanto o odiava. Ao quadrado, a forma, aquilo que querem que sejamos mas que não somos. E ao fugir dela, fugi de mim. Com medo de me parecer com ela fugi e escondi-me atrás da forma. Calei-me e deixei que ela me moldasse até não consegui mais respirar. Até o meu pai morrer e o mundo desabar.

Muito antes disso o molde já me estava a magoar, muito antes disso já gritava em silêncio. No mesmo silencio em que repetia para mim mesma os sonhos que queria e que jurava, jurava só assim conseguiria. Como senão houvesse outra maneira!?

Assim que perdoei a minha mãe, a paz instalou-se. Sem brigas, ofensas, cobranças nem porquês aceitei-a finalmente. A ela e àquela parte de mim que sempre foi igual a ela. À rebelde, à que vestiu apenas preto e branco durante mais de um ano, à que usava roupa larga, correntes, penteados estranhos e ao mesmo tempo argolas e pulseiras do bonfim. À que tinha sempre música, cadernos e livros à sua volta. Que dizia o que queria a quem queria ou não ouvir. Quando perdoei a minha mãe percebi que ela sempre foi muito mais corajosa do que eu. Que ela nunca se escondeu ou fingiu ser quem não era mesmo que sem perceber, que ela se recusou a entrar no quadrado e a subjugar a sua essencia por segurança ou qualquer outra coisa. Os sonhos dela eram volateis, sim isso é certo, mas ela sempre fez tudo e somente o que quis. Para o bem e para o mal e por isso, só e apenas merece brindes infinitos.

E eu? Eu que tenho dito há meses que apesar de nada parecer, uma revolução está a acontecer... Eu que me sinto a vir ao de cima a cada dia que passa. Que me vejo, analiso e escuto. Paro, sinto e tento perceber. Ainda estou aqui. Cada vez mais estou aqui. No regrets. Muitos jamais. E muito mais para vir...

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