A ideia do amor foi sempre atrativa, desde que me lembro de ser gente. A minha mãe, uma romântica incurável, passou-me isso no berço. O que é só irônico, dado que esse mesmo amor a destruiu a ela e à mãe dela anos antes.
Mas eu nunca tive medo de sentir, pelo contrario, tal adrenaline junkie, o que eu sempre mais gostei foi do rush, do não saber, da incerteza que transforma tudo em paixão e consome sem parar. O amor é magia, e a paixão sempre foi a minha porta para Narnia.
Lembro-me que, do alto dos meus 14 anos, cheguei um dia à brilhante conclusão que depois do "eu amo-te" não havia mais nada. Lembro-me de dar voltas à cabeça a pensar no que vinha depois, e não haver nada. No happy endings, just endings. Então, mais valia nunca dizer essas palavras. E durante os anos que se seguiram, foi assim que levei a minha vida romântica. Ignorante, e sem perceber que o fazia, claro.
Mas agora, juntei a ideia da paixão com o amor, com a atração do abismo, a maturidade e as perguntas, que em olhando para trás, ficaram por responder. Da minha segurança dos quase 40 anos, eu sei porque que é que me apaixonei por quem me apaixonei, sei até porque é que não foi correspondido, sei porque é que tolerei situações intoleráveis, porque é que escolhi amar algumas pessoas mais do que a mim mesma. Sei que às vezes era mais fácil amar estranhos do que me amar a mim. Mas a pergunta que foi feita na terça feira foi: e o que é que eu tirava dai?
Eu acredito que por mais diferentes que sejam as pessoas, os cérebros são iguais. É um órgão, estudado, e daquilo que se sabe, com comportamentos característicos, que mesmo sendo diferentes de pessoa para pessoa, são categoricamente semelhantes. E por isso, quando um psicologo me pergunta qualquer coisa, que eu nem sempre estou preparada para responder, eu sei que de alguma maneira, com aquela pergunta e insinuação, ele quer chegar a algum lado. Ou melhor, quer que eu chegue a algum lado. Faço terapia há demasiados anos para não saber...
E portanto, o que é que se tira deste comportamento tóxicos? Sim, porque amor não correspondido é text-book mau. Como é que pode have alguma coisa que tiramos de bom/positivo ou que simplesmente gostamos, em comportamentos maus e que nos destroem no process?
E há duas coisas, talvez mais se procurar bem. A primeira é que eu nunca me sinto tão viva como quando estou apaixonada. E assumo que ninguém na realidade. A dopamina corre muito forte no cérebro e torna tudo o resto inconsequente. Independentemente de qual seja o objecto da paixão.
A segunda é a questão da desculpa. Usei muitas vezes o amor, tal como usei o álcool, como uma desculpa para fazer o que queria. Porque era incapaz de assumir que, se calhar, não era assim tão boa pessoa como eu queria achar que era. E afinal, toda a gente percebe paixão e desculpa o comportamento dos apaixonados. Portanto, em estando apaixonada, não precisava de admitir que queria uma coisa e que ia lutar por ela doesse a quem doesse.
Aquilo que nós somos e fazemos na realidade, e a ideia que nós próprios temos daquilo que queremos ou devemos ser, é muito diferente. E a liberdade está só em aceitar. Aceita que dói menos.
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