sexta-feira, 7 de outubro de 2022

The heavy stuff now

E ela a chorar perguntou-me "estás a dizer a verdade, não estás? Ainda acreditas que eu posso voltar para casa, não acreditas?"

E eu, depois de um pausa de 10 segundos para ganhar compostura, fiz a única coisa que podia fazer; Menti. Disse que acreditava que ela podia fazer tudo aquilo que pusesse na cabeça que queria fazer. Que tinha sido assim a vida inteira.

E se fosse há uns anos atrás esta resposta, não teria sido mentira. Mas hoje foi.

Hoje menti à minha mãe, doente, numa instituição de onde ela nunca mais vai sair. Menti porque era a única coisa que podia fazer. Porque dizer a verdade iria fazê-la sofrer desnecessariamente. Porque a doença dela não tem cura, porque demoramos 20 anos a chegar aqui e ela sabe a resposta, mas quer que eu lhe minta. Porque se eu lhe disser a verdade, ai ela perde mesmo tudo, incluindo a esperança.

Não foi de animo leve. O nó que tenho na garganta prova isso. Hoje não consegue desviar o assunto, nem escapar com uma omissão ou meia resposta, não me consegui safar com uma technicality. Hoje menti-lhe mesmo. 

Podia aqui mentir e dizer que o fiz por ela. Também fiz, sim. Mas fiz por mim, porque sei que ela daqui só piora e que não há outra maneira, mas a ideia dela desistir e se deixar morrer é mais do que eu consigo aguentar. Não estou pronta ainda! 20 anos e ainda não estou pronta. Esta meia vida que vivemos é melhor do que vida nenhuma. Não consigo desistir e deixa-la ir, deixa-la desistir. Ainda não.

Podia acabar agora com um "tão simples quanto isso", mas não se enganem. Não há nada de simples em tudo isto. Há não a obrigar a comer e a fazer exames e a sofrer, por um lado. Mas não conseguir deixa-la desistir completamente por outro. Ontem foi no cravo, hoje foi na ferradura. Ontem ela percebeu (bem mais até do que eu queria), quando eu lhe disse que era decisão dela e só dela o que viesse daqui para a frente. Hoje ela perguntou e eu menti.

Não justo. Para ninguém. 

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