Crescer

Não é assim tão mau quanto parece à primeira vista.
Durante muitos anos achei que teria de ser um adulto feito na medida de outras pessoas. Olhava para elas e não me identificava, havia um fosso que me ia engolir se tentasse passar para o outro lado, iria deixar de ser eu. E com este medo, deixava-me ficar.
Fui percebendo ao longo dos últimos meses que a única diferença dos adultos para as crianças é a liberdade. Aquela que tanto se apregoa nos anos de juventude e que simplesmente não se sabe o que se fazer com ela. Liberdade é bom, é óptimo, o problema é que sermos livres quer dizer que fazemos o que queremos e somos responsáveis por isso. Com a liberdade acaba o "mas a culpa não é minha", "ele é que não me deixa em paz", "disseram-me para fazer assim"... talvez por isso tantas e tantas vezes nos tentemos prender a alguém para não sermos responsáveis pelas nossas acções. É fácil.

Crescer trouxe-me certezas sobre mim, trouxe-me noções do que quero, como quero e o que tenho de fazer para o conseguir. Noções de realidade, de ajustamento... serenidade. Percebi que não tenho que ultrapassar o fosso para ser de uma alguma maneira que não me identifico e posso ser um adulto responsável, e em 5 minutos fazer uma qualquer parvoíce como quando tinha 15 anos. E quando percebi que posso ser como quero, percebi também que afinal não sou assim tão diferente dos adultos que eu conheço.

Sou sim, muito menos boa pessoa do que achava que era, muito mais egoísta e focada em mim do que supunha. Tenho mais vontades e mais caprichos, quero mais coisas que, se calhar, não deveria querer. Tenho menos medo. Muito menos medo do amanha, das consequências, do ficar agarrada a alguma coisa que não quero. Tenho plena certeza neste momento que ninguém me prende se eu não quiser, ninguém me agarra onde eu não quiser estar, ninguém me força (psicologicamente, óbvio) a fazer coisas que eu não quero fazer, a estar com quem não quero estar. Assumo-me assim sem pensar no "deveria"! Faço o que quero, nada mais, nada menos...

Crescer é bom.