quinta-feira, 31 de maio de 2012

Grandmother

Ao almoço falámos do passado, das historias de família, das pessoas que fugiram às regras e fizeram só aquilo que quiseram, numa altura em que tudo tinha de ser como "era suposto".
Depois de várias histórias, falámos da minha tia E..
Prima da minha avó, nunca casada. Passatempo preferido? Contar histórias de elementos da família, à mesa, que deixavam a minha avó com os cabelos em pé de tão "impróprias" que eram, e infelizmente (para mal dos seus pecados) totalmente verdadeiras. Namorou 7 anos e descobriu, com um dia de antecedência, que o namorado ia casar com outra (coisas de época!). Foi ao casamento dele, primeira fila, sem dizer uma palavra. Conta que sofreu até ao dia em que decidiu não sofrer por mais ninguém e em 1950 e troca o passo, trabalhava para se sustentar e fazia a vida que queria, com os homens que queria. Para a minha ultra-conservadora avó, tudo lhe faz confusão e não consegue disfarçar, nem agora, o olhar de critica, mesmo já tendo a tia E. morrido há mais de 9 anos.
Eu e o meu pai só nos conseguimos rir. Confesso que acho o máximo mulheres assim, sem problemas, sem pudores, que só fazem o que querem, prontas para responder ao pai da prima em 1951 - "Durmo com quem quiser, não tem nada a ver com isso. Preocupe-se com a sua filha a ver se ela não lhe aparece com um filho de cada pai." - depois de ele lhe exigir "compostura". Quase perfeito!
Outra coisa que descobri neste almoço foi que, 40 anos depois de o meu bisavô ter morrido, a minha avó não consegue falar nele sem lhe caírem as lágrimas. Porque ele era o melhor pai, o que estava sempre ali, o mais amigo, companheiro, brincalhão... 40 anos e ela ainda chora quando se lembra dele. Os nossos sentimentos são coisas inexplicáveis. É maravilhosa a nossa capacidade de amar alguém, mesmo quando esse alguém já cá não está.

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