Que se aprendem quando estamos a limpar e arrumar coisas antigas:
A minha avó nasceu prematura como eu, só que ainda mais. Eu nasci de 5 meses, e ela nasceu de 4.
Foi o que descobrimos ontem, eu e o pai, e não deixa margem para dúvidas, a certidão de casamento da minha bisavó Teresa é datada de 26 de Janeiro de 1925, a minha avó nasceu a 21 de Maio de 1925.
Não engana.
Eu sempre disse à minha avó que o problema não eram "as modernices de hoje em dia", o problema é que hoje em dia ninguém esconde nada, cada um faz o que quer e quando quer. Mas fazê-las, sempre se fizeram, hoje ou à 100 anos atrás.
A tia G. é que tinha razão afinal, ela bem dizia à minha avó que as beatices nunca impediram ninguém de nada. Ela tinha a sua razão.
A mim só me deu vontade de rir de imaginar a reacção da minha avó se nós tivéssemos encontrado este papel antes, ia ser priceless.
Hoje vou continuar, a seleccionar livros, a empacotar coisas, a arrumar. Até acabar não vou deixar de lá ir.
Já não choro, já não me irrito com o facto da minha avó ter ido cedo demais, já não acho injusto, nem me moí de dor. Aceito. Acredito que ela me protege, sorriu a pensar que ela está ali comigo a escolher os livros. A casa está em silencio, já semi-vazia, mas aquela já não é a casa da minha avó, é apenas só uma casa com coisas da minha avó. A casa da minha avó agora é outra, aonde não sei, nem sei se ela está com o meu avô. Foram casados 52 anos, mas eram muito diferentes, não sei sequer se é possível estarem no mesmo sitio. Mas prefiro não pensar. Habituar-me à ausência é mais do que uma tarefa, não preciso de mais.
Sem comentários:
Enviar um comentário