quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Viagens noutros blogs #99

Também eu sou assim...e cada vez pior, porque cada vez mais é difícil entrar na minha vida. Ser meu amigo não é uma tarefa fácil, mas eu gosto de pensar que compensa porque não faço amizades por meias medidas, ou é, ou não é. E quando é, é: para sempre, com muito ou pouco contacto, com mais ou menos partilhas, com sorrisos, pulos, euforias, ranhos e babas, coisas parvas sem importância ou assuntos realmente sérios...

Confesso que o "não percebes nada disso, eu é que sei" e o "esse gajo é um idiota e mais idiota és tu por gostares dele", me fez rir à séria...é que é mesmo assim!! Quando somos amigos não temos medo de dizer, não dizemos por trás, não fingimos que não está a acontecer; dizemos na cara, na lata tudo o que o outro tem de ouvir...porque os nossos amigos aguentam, não precisamos de ser complacentes com eles. E é isso que distingue os grandes amigos das restantes pessoas: as conversas desconfortáveis, as palavras de contraponto, o que sabemos que vai magoar, mas que tem de ser dito. E o depois... quando eles vão e fazem tudo outra vez, e nós estamos cá na mesma, encolhemos os ombros e pensamos que se conselhos fossem realmente bons, não se davam, vendiam-se.


Eu tenho uma certa dificuldade em disfarçar o meu ar de idiota, resultante de afirmações que ouço. Ora, irrita-me particularmente pessoas que utilizam o termo “amigas” para toda a gente.
- Eu tenho uma amiga que blablabla. Mas depois, vai-se a ver, e ninguém, nunca, jamais, ouviu ou viu essa amiga. Aliás, na melhor das hipóteses, a pessoa que discursa ouvi/viu essa "amiga" uma única vez na sua vida, concluindo, na verdade, nem amiga é; sendo apenas um conhecimento fugaz de alguém que é amiga de uma amiga de uma amiga. Ou seja, ninguém.
Os amigos/amigas, para mim, são sagrados. Não dou (sou, realmente, bastante aborrecida) essa “promoção” relacional a muita gente. São precisos alguns anos, bastantes anos, de convivência mútua, não apenas diminuída a saídas nocturnas ou bebedeiras adolescentes para que a relação com alguém seja transformada em amizade.
O chorar também faz parte; o crescimento conjunto, esse, é fundamental. As histórias vividas (sim, a alegria da noite também ajuda, mas, por si só, não é suficiente), as histórias partilhadas, as histórias criadas.
Não posso dizer que tenho poucas amigas. Tenho bastantes, até. Porque, sempre, frequentei espaços diferentes, actividades diferentes, a facilidade de relacionamento também é uma constante mas dai a este grupo aumentar diariamente, ou sempre que conheço alguém, vai um enorme passo. Todas as minhas amigas ou amigos, contemplam anos de investimento de histórias, choros, gritos e copos. São o resultado de mau feitio persistente, de opiniões controversas, da alegria contagiante, dos dissabores pontuais, dos copos à noite na faculdade, ou à tarde ou até de manhã. Dos cinemas à quarta-feira, que já foram à quinta-feira e que agora estão adormecidos. Das viagens loucas feitas à vela. Das viagens loucas de conhecimento, de noites mal dormidas, do mau ar matinal, cara borrada da maquilhagem da noite anterior, arrependimentos que, na altura, até nos souberam bem. Das máscaras carnavalescas, das passagens de ano na neve, das passagens de ano aqui, no nosso cantinho, pintalgadas de lágrimas de esperança por um ano melhor, das trocas de confidências com copos a mais, dos segredos implorados quando algo saiu que não devia ter saído. Da intimidade no acto de escolha de roupa, das noites em branco, dos cigarros escondidos, dos choros dos chumbos, do nunca mais vou fazer esta cadeira, das saudades, tantas saudades, daquelas amizades que resolveram afastar-se para outros países. Dos berros, tantos berros, do vincar de opiniões, do não percebes nada disto, eu é que sei, do esse gajo é um idiota e mais idiota és tu por gostares dele. Dos presentes oferecidos sem razão aparente, dos lanches, dos abraços, dos beijos, dos estalos. Relações que sobrevivem a isto tudo, são, garantidamente, amizades. E passam-se anos, anos até que estes grupos de amizade, ou AMIZADE (sim, com letras maiúsculas), cresçam. São precisos muitos bons e maus momentos para que alguma cumplicidade exista, para que algo se crie, para que o todo faça sentido, não se reduzindo, apenas, à soma das partes.
E por respeito a elas, a estas amizades, não consigo, levianamente, denominar por amigo, alguém que casualmente comigo se cruza na corrente da vida. Sou, realmente, bastante aborrecida.

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