Com a intensidade com que eu vivi até aos 28, posso dizer com certeza, se alguém com mais poder que eu, não me tivesse protegido em pelo menos uma dúzia de ocasiões, eu teria embatido violentamente contra as rochas.
Todas as vezes que perguntei “porque não?”, que roguei pragas ao destino e culpei a sorte, vejo agora fui apenas abençoada e protegida.
Se tivesse vivido certas coisas (ainda mais do que vivi), tinha-me desfeito, queimado de dentro para fora, quebrado para lá de conserto e hoje não seria a pessoa que sou.
Vejo-os aos dois a dormir ao bem lado, e só com muita benção é que poderia ter o que tenho hoje.
Olho para trás, a música normalmente leva-me ao passado, e passo em revista certos acontecimento, momentos de viragem, decisões que pareceram na altura tão pequenas mas que inviabilizaram algumas estradas, cortaram, interromperam. Tudo eu! Todas as vezes que disse e jurei que era a última, foram glutões de força para a última a sério. E quando cortei não cortei só, rasguei, amachuquei e deitei fora. Uma coisa é certa, quando corto, é de vez, sem retorno, como senão tivesse existido jamais.
Esta minha capacidade de corte arrepia-me, mesmo que ache numa destas minhas visitas ao passado que fiz mal, não volto para trás, não dou o braço a torcer, não me arrependo sequer. 33 anos e continuo a ter apenas um arrependimento na vida, que passei muitos anos a tentar compensa-lo, mas infelizmente há dias que não voltam.
Há coisas que sem dúvida faria diferente, mas mesmo essas foram perfeitas, peças para me tornar no que sou hoje.
E quando tiro estes pensamentos do meu sistema deixo de ter o que escrever, a paz retorna.
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