segunda-feira, 20 de maio de 2013

Taboo

É que nós sabemos B., que a maior razão dos nossos problemas é isto [pega na garrafa de Taboo], mas continuamos a fazer o mesmo todas as semanas...

Era uma vez uma rapariga (voces não conheceram), ela saía à noite todas as semanas, por vezes até todos os dias. Era jovem, e só pensava em se divertir...nunca nenhuma noite era suficiente, ela queria sempre mais e mais divertimento. Coleccionou historias para contar, momentos unicos, desconhecidos irrepetiveis, noites sem dormir, nasceres do sol maravilhosos. Enquanto houvesse noite, musica, amigos, copos, gargalhadas, meninos do rugby para beijar, estava sempre tudo bem, o mundo era um sitio bonito e fácil e ela pensava frequentemente que nunca ia ser diferente, que as noites seriam para sempre assim, encantadas. E foram, durante 10 anos...
Um dia a rapariga apaixonou-se, e percebeu já irremediávelmente tarde que ele não gostava dela da mesma maneira. A tristeza apoderou-se e ela fez a unica coisa que sabia para tentar parar a dor, ia para a noite com as amigas, dançava até de manha, regava tudo com muita vodka e beijava desconhecidos, porque não podia beijar a unica pessoa que queria. No principio a dor piorava aos Domingos de manha, mas depois começou a doer logo aos Sabados à noite, irredutivel perante qualquer quantidade de alcool o pensamento era sempre o mesmo: ela queria estar a aninhada com ele a ver um filme no aconchego do lar e acordar no outro dia cedo para apanhar o sol da manha e não estar ali, no meio do ruido e da confusão. Os desconhecidos já não eram divertidos porque existiam para tentar parar uma coisa que, claramente, não pararia assim.
Até que houve um dia que a rapariga ficou em casa, aninhou-se no sofá, indiferente ao chamamento das amigas, fez um jantar simples só para ela e viu filmes e séries de seguida. No Domingo de manha acordou cedo, entrou com a prancha na água e sentiu-se feliz com o sol a queimar-lhe a cara. Percebeu que ficava mais feliz se parasse de tentar parar a dor à força, se estivesse em contacto com a natureza e fizesse coisas que lhe faziam bem, em vez de mal.
E assim a raparida andou para a frente, ficou sozinha durante muito tempo, sarou as feridas. Os amigos a sério perceberam, adequaram-se à mudança, respeitaram. E com o tempo ela ficou bem.
Agora sai a noite novamente para dançar somente, muito menos que antes, porque a vontade de enfrentar o frio já não é o que era. É selecta com os sitios, não troca os dias pelas noites e prefere frequentemente o aconchego do sofá aos saltos altos. É feliz como é, à sua maneira.

Escusado será dizer que a rapariga sou eu. Mas um "eu" que voces não conheceram, um "eu" que não tinha tempo nem paciencia para escrever sobre as loucuras cometidas, que achava que só as boas meninas é que tinham diários, as más não tinha tempo para isso. Lembro-me com alegria dos momentos, das pessoas, do beijos roubados, das noites loucas, das manha cansadas, das aulas de directa, das desculpas esfarrapadas, da roupa para sair, dos meninos do rugby, do carro que andava sozinho, das idas para a praia com as amigas a cantar em plenos pulmoes, dos fins de semana no Algarve, das viagens à neve, à Grecia...
Fui muito feliz. E agora sou também, muitissimo. As pessoas mudam, tem de olhar para frente e parar de fazer coisas que doem. A vida é curta para insistir em erros inuteis.

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