quarta-feira, 5 de maio de 2010

Esqueço-me

Às vezes esqueço-me do meu passado, das coisas que já vi, dos sítios por onde já andei e da pessoa que já fui.

Esqueço-me que há um mundo muito complicado lá fora, que há problemas muito maiores do que qualquer um dos meus hoje em dia, que há sonhos que nunca vão ser concretizados, pais que nunca mais vão voltar, vidas desfeitas do nada, actos completamente estúpidos que serão severamente punidos!
Esqueço-me que há pessoas que se continuam a drogar, crianças que continuam a beber, adolescentes que continuam a ser mães, miúdos que morrem em acidentes de mota, semi-adultos que acham divertido andar a pancada com facas e bater em betinhos...

Parece que foi noutra vida, olho para trás e parece que não fui eu que vi tudo aquilo que vi, que não fui eu que andei lá pelo meio feita menina rebelde a ver o mundo real...
E depois há o dia que me lembro, que vou a andar na rua e alguém chama por mim (uma alcunha que já não me lembrava que tinha), alguém que eu não via a mais de 10 anos e que continua exactamente na mesma. Alguém que tem um sonho que não vai realizar (apesar de fazer os esboços de carros mais giros que eu já vi), que já foi uma pessoa que eu adorei, que andava comigo ao colo, que se lembra das minhas letras de graffitis e das minhas antigas paixões.
Alguém que acha que eu ainda sou a mesma miúda que era a 10 anos atrás, mas com roupas mais giras!!

E eu nem sombra tenho dessa miúda, das pessoas que foram os meus melhores amigos quando eu era rebelde, da betinha que se juntou a eles e que saiu ilesa por ter a maior sorte do mundo inteiro. E sim, eu acho hoje em dia que foi apenas sorte. Era inconsciente, não sabia o que fazia, não sabia o que dizia, não sabia por onde andava...e podia ter corrido tão mal...
Tantas omissões aos meus pais, tantas "Mota? Não mãe, eu nunca ando de mota!", "Não, eu nunca vou para esses sítios", tantos actos infantis e inconsequentes, tantos avisos ignorados, tantas loucuras parvas, tanta rebeldia sem sentido...para agora parecer que foi outra pessoa que viveu isso tudo!

Havia uma amiga da minha mãe que lhe dizia para a tranquilizar: "não te preocupes, a educação é uma coisa muito forte. Ela um dia vai ser exactamente aquilo que tu a educaste para ser." E eu sai-me melhor que a encomenda...

Mesmo assim, quando relembro o passado não deixa de me custar saber que, pessoas que já significaram o mundo para mim, não conseguiram ou ficaram pelo caminho.
Custa-me...apesar de não ser a miúda que já fui!

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