Literalmente toda a gente me perguntou o que é que eu achei de Cuba! Provavelmente um destino muito mais "curioso" que outros que já fui...
Cuba é exactamente o género de destino que dá para o que quisermos, pode ser só mais um país tropical com praia e hotel tudo incluído, ou pode ser uma abertura para discussões muito mais sérias sobre politica, capitalismo/comunismo e consumismo...ou pode ser os dois em simultâneo.
A beleza natural é inegável, o mar na temperatura certa, as praias de areia branca, coqueiros, humidade e selva na medida certa e como esperado.
Mas Cuba são também as pessoas, simpáticas mas reservadas. Claramente pobres, mas com uma relação amor-ódio no que se refere a dinheiro e em aceita-lo como forma de comprar simpatia ou um melhor serviço (um dos hábitos americanos que honestamente abomino). Uns "Pátria ou morte" ainda hoje pintados de fresco, um orgulho pessoal e colectivo no país, e um balanço precário entre falta de liberdade e a noção de que todos os mínimos para se viver, são ainda assim suportados pela maquina governativa.
Achei ainda assim o país mais aberto comparativamente há 25 anos atrás quando lá fui pela primeira vez. Há um falar mais fácil sobre o estado politico, onde estão e onde querem chegar. Qual o tipo de socialismo que ambicionam e quais são os seus óbvios parceiros e entraves. Num país em que os mínimos (casa, saúde, comida, profissão e transportes) são assegurados, qualquer retirar de benefícios, mesmo que seja a favor de uma abertura da economia e crescimento não é de todos bem visto. É um problema de ovo e galinha...
O país não é aberto, e por isso o consumismo bate, certamente, recordes mínimos. Não há revistas/social media/advertisment à bruta a tentar incentivar ao consumo, e por isso não há necessidade real de muito dinheiro acima do que se ganha e do que já é dado pelo governo. Sem serem guiados por consumismo, os Cubanos dão-se ao luxo de recusar gorjetas (vi isso com os meus próprios olhos!), de ver o dinheiro como uma coisa até meio suja, pareceu-me a mim. E portanto, eu diria que há pouco incentivo da população em geral em produzir mais, trabalhar mais horas, deixar as maquinas corporate entrar e tudo aquilo que por estas bandas aceitamos como normal.
Claro que tudo isso podia mudar com um país mais aberto ao ocidente, em que as "zaras e as cosmopolitas" desta vida entrassem há bruta a mostrar tudo o que o consumismo pode trazer. Mas isso exigira mostrar à população as diferenças entre a experiencial comunista dos últimos 60 anos vs. experiência capitalista. Deixar o povo aferir por eles mesmos, com a informação disponível e acessível, o que é que a revolução trouxe...para o bem e para o mal! E ai eu acho que o país ia dividir-se ao meio...a pátria como um todo ficaria mais fraca. Não sei se Cuba como é agora sobreviveria a essa fracção. Em países gigantes como a China ou a Rússia, dá para ter um pouco de tudo, uns tantos um passaporte e que estudam fora e outros que nunca sairão do pais. Mas em Cuba? pequena ilha a 60 milhas de Miami, não me parece possível.
E portanto as mudanças são graduais.
Para mim, o peso do não consumismo visível e invisível foi uma lufada de ar fresco. Tão bom como o detox digital que fiz pela internet ser tão fraca na maioria dos sítios. Viver simplesmente de uma maneira diferente da usual no dia-a-dia.
E essa foi outra questão. Foram umas ferias diferentes, quando comparadas com outros destinos próximos de lá como o México e Aruba. Sítios em que não há diferença nenhuma daquilo que estamos habituados, apenas mais calor e comida/bebida variada à descrição. Aqui houve um sair da zona de conforto, uma tentativa real de não reclamar das diferenças mas aprecia-las, perceber que é exactamente por isso que viajamos, para ver as diferenças. E claro fazer isto contra toda uma população há minha volta (éramos 8 nesta viagem) a queixar-se muito por tudo e por nada...
Eu por mim fiz praticamente tudo o que queria fazer nesta viagem:
- Andei de carro antigo em Havana (e agradeço muito à invenção dos carros electricos!)
- Fumei charutos, bons charutos
- Passei horas no mar sozinha e acompanhada a dar mergulhos e a estar, somente
- Li dois livros inteiros (disclaimer: para ler não é preciso internet!)
- Passei tempo de qualidade com os miúdos e tive muita ajuda
- Fui a um club em Havana. Eu preferia uma coisa mais underground, mas o que fomos foi suficiente para sentir o gostinho
E deixei por fazer o mergulho. Só porque não me apeteceu a viagem de carro, e o cansaço para la chegar.
E descansei. E pensei. E voltei serenamente para a minha agitação diária.