quinta-feira, 28 de março de 2024

Paradoxos

 A coisa que ela mais queria era ser amada, especialmente pelos pais. O problema é que fizesse ela o que fizesse, nunca era suficiente. Ela nunca era suficiente, foi a tradução à letra do que aconteceu durante anos.

E quanto menos ela se amava porque ela nunca chegava, mais desculpa ela pedia, mais ela se justificava até por existir. Como se, se ela ocupasse menos espaço, pudesse então assim, finalmente ser amada.

E quanto mais ela esperava por alguém a amasse, mais ela procurava sem perceber pelo tal amor (o que os pais não lhe deram) noutra pessoa. E quando não era reciprocada, menos ela se amava a ela própria. E quanto menos ela se amava, menos os outros a amavam de volta.

E todos os que a amavam, ela considerava-os só e apenas amigos. Afinal sempre assim o tinha sido.

O paradoxo, de procurar quem a salvasse (amasse), sem perceber que só quando ela se salvasse (amasse) a ela própria, ela se iria sentir a salvo.

Afinal porque é que ela queria ser amada? Porque só assim ela teria valor, só através do amor dos outros, ela sentiria o amor que ela não sentia por ela mesma. Mas ninguém pode amar pelos dois!

Custa muito estragar uma criança. Basta apenas uma pessoa ama-la incondicionalmente para ela já não poder ser estragada. Infelizmente para mim, no meio de tantas pessoas que fizeram a minha infância, nunca chegou a acontecer. Amaram-me sempre com um "mas" a seguir...e enquanto do alto dos meus (quase) 40 anos já ultrapassei, o meu "eu" de 9 anos continua a pedir desculpa e a justificar-se por existir. 

E essa é a razão pela qual eu faço terapia. Para o meu "eu" de 9 anos se sentir (um dia destes) finalmente a salvo.

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