Começar o dia a escrever. Nem sei há quantos anos isso não acontece.
Despejar e purgar até não haver mais palavras. Até não haver mais nada para sentir porque de alguma maneira veio tudo parar ao papel.
Tenho cadernos e cadernos na arrecadação, cheios de tudo o que não conseguia mais sentir. Mesmo sem saber o ser humano faz o que tem de fazer para se sentir bem. Para sobreviver.
Durante anos e anos sobrevivi por duas coisas ambíguas: escrever e treinar. E por mais que me chateie admitir: álcool e música. Uma compensava a outra e nenhuma me deixava afundar. Auto-terapia no seu melhor.
Hoje em dia, junto á terapia os livros, reduzi o álcool a pouco, quase nada. Mas dançar ajuda sempre. Deixei praticamente de escrever. Sinto-me vazia de palavras que não sei mais exprimir.
Sei o quanto custa a purga e de alguma maneira não me apetece peitar o que sei que me vai doer. Não tenho vontade de chorar em cima do teclado, de tremer o queixo e deixar-me re-sentir o que me quero esquecer.
No entanto, em meses como Fevereiro, em que dou por mim mais uma vez com aquela tristeza que só a ausência trás, penso que talvez o luto melhore se escrever. Se puser em palavras aquelas 3 semanas que passei em Portugal a ver o meu pai morrer. Ou então não. Ou então o luto dura para sempre e é como é, e nada se pode fazer.
Não sei. Mas não estou acima de tentar, eu acho. Um dia destes, talvez.
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