quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Journal

Escrever faz parte de mim. Sempre fez.
E isso sempre influenciou o meu "soft spot" por cadernos, canetas e tudo o que seja relacionado com escrita.
Tenho mais cadernos do que aqueles que vou usar no próximo ano e só me apetece comprar mais e mais.
Por agora vou simplemente voltar a escrever.

Depois de um mês e meio fora de casa, está na hora de voltar à rotina, aos projectos, à vida que pausei para voltar a Portugal.
Foi quase demasiado tempo e ao mesmo tempo, tempo nenhum.
Foi terapêutico da maneira como só Lisboa sabe ser. Voltar à minha língua, aos meus costumes, e a facilidade da vida como sempre foi. Voltar é tão fácil, fácil demais.
Voltar a casa sem o meu pai. Adaptar-me ao ambiente, às paredes, ao sofá, sem ele, custou-me muito. O buraco (que de si já não fecha), abriu ainda mais, não deixando espaço para mais nada, nem para a comida. Durante dias senti esta falta fisicamente de tal maneira que nem comer conseguia. 
E depois o tempo fez o que sabe fazer melhor, ajudou-me a aprender a contornar o buraco em vez de constantemente olhar o abismo. O tempo ajudou-nos a todos lá em casa (não só a mim), a lidar com a ausência, a aprender a viver com ela e a não estar constantemente a pensar nela. Achei a certa altura que não iria ser possível, a cada movimento via o meu pai, a cada quadro ou som. E depois habituei-me a que ele já não estava em casa. 
Explicar ao M. foi mais difícil e não sei se ele percebeu. Quando baixei os braços e desisti de lhe dizer somente a verdade, explicando-lhe sucintamente o conceito de morte, ele não acreditou na ideia de o avô estar no céu. E portanto voltamos ao mesmo sitio e daqui vamos gerindo com o tempo.
Foi bom saber que o quentinho de casa não desapareceu com o meu pai. Tive tempo de qualidade com as minhas irmãs, conversamos, pintamos as unhas e vimos filmes adolescentes, tal como fazíamos antes. À um conforto muito grande nas coisas imutáveis. Ou pelo menos imutáveis por agora.

Ao mesmo tempo tive saudades de casa. Do conforto das decisões tomadas somente a dois e não pela família inteira. Do fresco da minha casa (em contraposto do calor que fez em Portugal), da rotina.
Adoro a rotina. Nunca pensar sentir tanta falta dela. Ter a vida controlada, agendada, planeada. Ter planos, objectivos e metas.
Portugal sabe a férias, mesmo quando se trabalha de casa. E em férias é relax, só se faz o que se quer. Mas não se cumpre nada, não se chega a lugar nenhum, e é esse mesmo o propósito. Mas eu gosto irremediavelmente de estar sempre a lutar por alguma coisa e por isso estou feliz de voltar.

Este agri-doce dá cor à vida.

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