Eventualmente terei de ensinar o meu irmão a não dar amor a quem não merece.
Tão clara é esta premissa para mim agora, que me esqueço quanto tempo levei a aprender esta lição.
Dar amor a quem não merece, não quer, ou não retribui é frustrante, infrutífero e causa maior de todo o tipo de dores e mágoas.
Neste dia do pai, ele voltou a ligar ao pai. Como senão tivessem passado quase dois anos desde que ele viu o pai pela ultima vez, como se toda a ausência nada significasse, como se toda a relação fosse casual e permanente e o telefonema no dia do pai fosse apenas mais um entre tantos. Mas não é. Não é de todo.
Depois desta semana eu própria ter falado com o senhor (por outros motivos), e durante as duas conversas ele não ter perguntado uma única vez pelo filho, temo que também o meu irmão um dia busque em pessoas que não lhe querem dar amor, o que o pai (e a mãe) lhe deviam, incondicionalmente, ter dado.
Como criança, não posso dizer que ele seja infeliz (muito pelo contrario) ou que sofra constantemente por esta ausência. Mas a pressão de ter um pai, de ser igual aos outros, de entregar o cartão do dia do pai (que nada significa), fala sempre mais alto. E é apenas no dia do pai. Nem nos anos, nem no Natal ou nenhuma outra data ele sente esta necessidade, mas o dia do pai é hoje, e foi desde que ele era pequeno, uma espécie de lembrete de que ele precisa de ter um pai e não tem. E por isso ele procura neste dia essa normalidade instituída.
Atendendo à idade dele, tudo o que posso fazer é nada. Deixa-lo perceber por ele mesmo quem está presente na vida dele e quem não está. Vou ter de deixar a adolescência vir e ir até lhe poder dar a minha opinião adulta sobre este assunto. Até lá vou ficando com lágrimas nos olhos cada vez que penso no injusto que toda a situação é. Em como todas as crianças deviam ter um pai e uma mãe que desse o mundo por eles e a realidade é que isso não acontece. Não aconteceu comigo e não aconteceu com ele.
As marcas que isso deixa, não interessa quantos anos ou terapia depois, são permanentes.
Eu aprendi a não dar amor a quem não merece da mesma maneira que aprendi que tenho que me esforçar para fazer ter aquilo que quero, à força, por uma questão de sobrevivência. Mas e como é que isso se ensina, se algum dia o tiver de fazer? Ele vai-me sempre ter a mim, e eu não tinha ninguém. Isso, para o bem e para o mal, faz toda a diferença. Por um lado, ele nunca vai estar sozinho, mas por outro e não tem necessidade de se esforçar tanto!
Inocentes os que pensam que educar, ensinar e preocupar esta só guardado para os pais. Todas essas coisas estão guardadas para quem ama, pais, irmão ou amigos.
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