Depois do anuncio, do que eu achava, seriam as medidas mais concretas da reestruturação no nosso departamento, fui almoçar com uma colega grega.
Esta minha colega, não é do meu departamento e portanto tem potencial para se tornar amiga, sentou-se a minha frente com o coração nas mãos a dizer não sabe o que vai acontecer com o contrato dela. Durante um ano ela trabalhou com pessoas que lhe segregaram a informação, esconderam o seu próprio trabalho para ela não poder aprender (Deus nos livre se ela se tornasse melhor que eles), com um chefe que nem percebeu o que se estava a passar. E ela, boa pessoa, simpatica demais para o seu próprio bem, nada disse, fingiu que não estava acontecer até, na avaliação dela, ter sido acusada de pouco pro-activa e slow learner.
"Nós socialmente damos-nos bem, qualquer um deles tomaria uma cerveja comigo", dizia ela. Claro que isso não os impedem de lhe travar as ambições e tentarem diminui-la a cada reunião.
Ela é tão boazinha que me fez lembrar de mim. Anos e anos, a ouvir e calar, não comentar, respeitar a hierarquia e sem resmungar, a ser explorada, a ensinar mas fingindo ao mesmo tempo que a pessoa já sabia, traduzir inglês, encobrir...
Se eu soubesse o que sei hoje, tanto murro na mesa que eu tinha dado!
Mas, e como eu lhe disse, lidar com pessoas difíceis e chefes inseguros é uma lição para o futuro. Toda a gente vai sempre "tomar uma cerveja connosco" se nós não fizermos ondas, de alinharmos com status quo, se não fizermos demasiadas perguntas ou procurarmos por situações justas.
Sinceramente que se lixe a cerveja. Fiz amigos no trabalho uma e única vez na vida, que foi no meu primeiro trabalho, e fico muito feliz de os ter feito, mas depois disso nunca mais.
E enquanto muita gente acha isso uma posição extrema, ou até triste, eu acho que faz parte do trabalho que as coisas assim sejam.
Gosto muito e alguns colegas meus, acho até que eles poderiam ser meus amigos (senão fossem meus colegas), mas teria sempre os dias contados e levaria sempre a dificuldades desnecessárias. Porque irá haver uma altura em não iremos estar de acordo, ou haverá um conflito ou qualquer outro problema, e eu não me vou calar. Não vou evitar dar a minha opinião ou dizer que alguma coisa está errada, não vou concordar só porque somos amigos. E ainda pior que isso, a amizade poderá ser usada contra mim, porque quem é amigo confia e quem confia partilha confidencias.
Espero que ela tenha ouvido e comece a dizer mais o que pensa. A primeira vez que passas por cima do teu chefe e da opinião dele, custa muito, mas depois só melhora.
E sobre a reestruturação? Ah, nada concreto. Ninguém fala olhos nos olhos, ninguém diz como vai ser, mas uma coisa é certa, que vai ser, vai.
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