quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Como que há espera de um sinal...


...ele chegou. Tinha este poema aqui guardado há imenso tempo (desde os 17 anos que é dos meus preferidos), mas por uma razão ou por outra ia adiando a publicação. Hoje li apenas a minha frase preferida noutro blog (http://amorumlugarestranho.blogspot.com/2010/08/ao-seu-lado-nada-e-impossivel.html) e...cá está!!


Eugénio de Andrade - Adeus

"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus."

3 comentários:

  1. Eu adoro esse poema, sabes bem... não fosses tu a minha bff

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  2. Conhecemo-lo no mesmo ano e com o mesmo prof. hehehe =)

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  3. eugenio de andrade...... um grande poeta ....tinha de ser escolhido por ti...

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