quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Balanço de 2020

Estive a adiar até a ultima, e sinceramente nem sei se vale a pena fazer o balanço deste ano. 

Como que saídos de uma má relação, não temos mais palavras. O que foi feito, foi feito. Nunca hei-de perceber nem como, nem porque é que este ano aconteceu e no entanto está acabado. Devo este balanço unicamente as coisas boas que também aconteceram, há aprendizagem, há dor que faz crescer, a esta pessoa que agora sou e que se recusa a ver o como meio vazio.

Portanto, 2020 foi o ano em que o meu pai morreu. Inesperadamente como quem arranca um penso rápido ele estava aqui e deixou de estar. Todo o meu ano foi a tentar absorver esta dor, acarta-la comigo todos os dias sem excepção, tentar viver em vez de apenas sobreviver dia após dia. 2020 foi também o ano em que (por duas vezes) ia perdendo a minha mãe. Evitei contar-vos isto porque, tal como eu, iriam pensar que estava a gozar, que o destino não poderia ser tão cruel de me fazer órfã no mesmo ano, e no entanto aconteceu. Foram 6 semanas no hospital com uma infecção no cérebro e mais 2 tromboses para completar o ramalhete. Por duas vezes o médico me ligou a dizer que a situação era "muito grave", uma delas no dia antes dos meus anos. Na primeira semana de Dezembro tive o que posso chamar o principio de um esgotamento. Não sei se foi ou não, sei que nunca antes me tinha sentido assim tão fundo, num buraco tão grande. Honestamente, vou mencionar o Covid-19 aqui neste primeiro paragrafo das coisas más, apenas para ficar para a posteridade que sim, 2020 foi o ano em que o mundo fechou e vivemos uma pandemia, porque na minha lista como podem ver, não teve de todo prioridade. 

Vamos agora passar ao bom. Estive com o meu pai até ao fim, cheguei a tempo, antes do Covid fechar tudo estive ao lado dele a passar os dias sentadas no chão daquele quarto de hospital. A dizer que o amava a cada 15 minutos, a fazer-lhe massagens nos pés e tudo mais necessário para ele estar confortável. Se tivesse sido um mês para a frente não tinha conseguido, o mundo já teria sido submerso pela pandemia e as ultimas 3 semanas dele não teriam existido. Agradeço por isso, por cada minuto que me foi permitido.

2020 foi também o ano em que levei a minha saúde mental mais a serio. Seria de esperar que depois de ter feito quase dois anos de terapia há 10 anos atrás, não fosse preciso, mas afinal era. O meu marido esteve atento e agarrou-me a tempo de me fazer cuidar de mim. Não sei se me teria afundado completamente sem isso, mas com certeza teria sido muito mais difícil. 

Mais ou menos pela altura do Verão percebemos que o nosso apartamento era pequeno demais. Depois de 2 meses em casa a trabalhar com uma criança de 3 anos, e de mais uns tantos meses a trabalhar na sala, realizamos que pelo menos aqui nada vai voltar a ser como era antes e não vamos voltar 100% ao escritório nunca mais. Estava na altura de termos uma casa com divisões suficientes para tudo e foi isso que decidimos fazer, depois de tratar da parte das contas e das continhas. Investimos numa casa nova, mesmo antes de 10 dias maravilhosos em Corfu na Grécia. Vim de férias a conseguir respirar outra vez, preparada para o meu novo recomeço em Setembro e para retomar os projectos que tinha deixado de lado por causa da dor. E foi isso que fiz, empenhei-me no meu projecto família e favorecida por qualquer estrela que ainda existe tudo correu bem melhor que o esperado (claro que a estrela congelou depois disso, porque entrei nas 6 semanas que descrevi acima com a minha mãe hospitalizada).

E o ano acabou assim, cheio de trabalho e mudança e um novo confinamento que arrastou o M. para casa diariamente outra vez. Fomos para Portugal apenas para o Natal e estamos de volta a nossa casa (nova). Em processo de transformar esta casa num lar, o que me tem ocupado a totalidade dos dias.

Ia dizer que all in all, não me posso queixar. Podia ter sido pior (pode sempre!), podia ter sido melhor. Mas saiu deste ano outra pessoa, ainda não a conheço bem, ainda não sei do que ela é capaz, mas sei que sou diferente do que era há um ano atrás. 

Talvez haja votos para 2021, ou talvez não. Talvez tenha aprendido que 1 de Janeiro não faz qualquer diferença, no dia em que o mundo nos tiver que virar do avesso não vai haver votos que nos safem. E planos a um ano é quase uma piada.

Posto isto, feliz 2021. Muito melhor que 2020, de preferência.