domingo, 24 de abril de 2016

Razões

Acho mesmo que a única razão pela qual não deixei a minha vida toda por ele, é porque não sou mãe dele. Gosto de pensar que se fosse, ele estaria comigo, porque isso é o que as mães fazem. Algumas mães, anyway!
Isso, no entanto, não impede o aperto no coração por estar longe, nem a sensação de culpa, sem a ter, de cada vez que sei, apenas pela voz, que ele está triste ou ansioso ou apenas aborrecido. Lágrimas de frustração, porque afinal não podemos ter tudo, e não o consigo ter no meu mundo, nem podia. Lágrimas de incerteza, porque acho que estou (estamos) a fazer o melhor para ele, mas ainda assim, apenas acho! Não tenho a certeza!
E depois penso que ele tem uma vida bastante normal, apesar de tudo. Tem uma organização a volta dele, uma rede que o mima e o protege de tudo. Colégio, desporto, escuteiros, explicação, psicologa, catequese...ele tem tudo! Os problemas dele são os amigos, o não querer estudar, não gostar que o contrariem e ter pouco tempo para os jogos no computador. Então, lembrei-me de um jogo para atenuar as minhas dúvidas e preocupações...um jogo chamado "onde é que eu estava na idade dele?"
A resposta foi assustadora e daqui para a frente só vai piorar, de ano para ano. Na idade dele eu fiquei 3 meses sozinha...sim, 12 anos. A minha mãe tinha terminado um relacionamento de vários anos e caído na cama depressiva. E eu fazia tudo sozinha, ia para a escola, vinha, comia, fazia os trabalhos, arranjava a minha mala para passar o fim de semana com o meu pai, tudo sozinha, porque a minha mãe não saia da cama. Depois desse episódio passado, decidiu voltar a vida, começando por fazer uma lipoaspiração. Num dos exames que antecedem o procedimento descobriu-se um sinal... E bem, o resto já sabem. Blá, blá, blá, cancro. Lembro-me com pouco detalhe, porque foi tirar e estava controlado. Mas do que eu me lembro mesmo, foi dela ter feito uma birra porque queria dormir no meu quarto, durante duas semanas, e eu não quis. Com os primeiros sinais de adolescência rebelde a despontar, privacidade era tudo. Mas não tive hipótese, e nem nunca percebi porque é que ela quis ficar no meu quarto.
As pessoas são diferentes, eu era forte, sempre me disseram. Mas talvez, só talvez, deva confiar mais no que faço por ele, eu e todos os que estão nesta rede. Vai ficar tudo bem, ele vai crescer, vai doer, mas vai ficar tudo bem!

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